SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O casamento com Madonna -que, confirmada a separação, terá durado cerca de oito anos- fez do diretor e roteirista inglês Guy Ritchie uma figura pública muito mais visível do que seus filmes. Nenhum chegou perto de alcançar a cifra dos US$ 100 milhões de bilheteria. Alguns foram grandes fracassos.
Mas, ainda que não tenham sido muito vistos, ao menos "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998) e "Snatch - Porcos e Diamantes" (2000) estabeleceram uma "escola" de humor negro sobre pequenos gângsteres, que conquistou atenção da imprensa e simpatia de espectadores jovens.
Em linhas gerais, "Ro-ck'n'Rolla - A Grande Roubada" é mais do mesmo, sem a força da novidade, mas talvez em seu melhor acabamento. Os principais ingredientes reaparecem, trabalhados com esmero, como a montagem entrecortada e a narração em "off", bem-humorada e sinuosa, que apresenta personagens e eventos de modo a esconder cartas na manga.
Quem nos apresenta a trama é Archie (Mark Strong, de "Missão Babilônia"), fiel e eficiente braço direito de Lenny Cole (Tom Wilkinson, de "Conduta de Risco"). E o que faz Cole? É um "intermediador": ganha dinheiro ao erguer pontes entre o submundo e o poder político de Londres, o que interessa a muita gente. Um magnata russo (Dragan Micanovic), por exemplo, que precisa de facilidades burocráticas para a rápida construção de um novo estádio de futebol, e que usa, para movimentações financeiras, os serviços de uma contadora por quem ele tem uma queda (Thandie Newton).
Um especialista em executar golpes (Gerard Butler, de "300") entra no caminho dos negócios escusos entre esses personagens, como representante de outro universo, o dos proletários do crime, que reúne outras figuras do submundo londrino muito interessadas, como ele, em saber quem é o informante responsável por mandar vários para a cadeia.
As conexões entre os diversos núcleos da ação demoram a ficar claras e envolvem dezenas de outros personagens, com base em dois princípios: ganhar muito dinheiro rapidamente e fazê-lo em cima de alguém que vai perdê-lo. Quase um hino, portanto, a um tempo já inscrito no passado, de dinheiro fácil e grandes investimentos em imóveis. "Rock'n'rolla" tem, como valor, precoce nostalgia.