São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

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34º MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

Mostra exibe filme salvo de incidente

Diretora brasileira Iara Lee gravou ação de soldados israelenses e ativistas em navio turco que resultou em 9 mortos

Filme "Culturas da Resistência" roda por periferias mostrando poder transformador de manifestações de arte

MORRIS KACHANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mais notável do que o documentário "Culturas da Resistência" é a trajetória da diretora, a brasileira de ascendência coreana Iara Lee, 44.
Ex-mulher de Leon Cakoff, com quem esteve à frente dos primórdios da Mostra na década de 80, ela apareceu nos jornais do planeta em julho.
São dela as filmagens do incidente com soldados israelenses e ativistas do navio turco Mavi Marmara, que terminou em nove mortes.
O navio tentava furar o bloqueio a Gaza e foi interceptado em uma ação militar desastrada. Iara era a única brasileira a bordo. Não estava ali por acaso.
Segundo ela, tudo começou com a guerra no Iraque, em 2003. Em absoluto desacordo com a intervenção americana, decidiu abandonar Nova York, onde residia desde o final dos anos 80.
Tornou-se uma ativista multimídia sintonizada com as tragédias globais.
A partir de então, optou por um estilo de vida a que chama de nomadismo. Viajou por 25 países, de preferência aqueles considerados "não recomendáveis" pelo Departamento de Estado americano -Irã, Líbano, Afeganistão, Congo, Ruanda...
"É aí que você tem de ir.
São os países mais interessantes, onde as pessoas travam uma luta diária pela sobrevivência e têm uma força incrível", diz Iara, em entrevista por Skype, de Sarajevo.

REALIDADES DISTINTAS
Como filme, "Culturas da Resistência" deixa a desejar.
É um documentário que roda a periferia do mundo mostrando as diversas manifestações de arte engajada e seu poder transformador.
Grafite e hip-hop em Teerã, capital iraniana. Jogos de capoeira nos campos de refugiados palestinos, no Líbano.
Poesia em Kinshasa, no Congo, considerada pela ONU a capital mundial do estupro.
É tudo muito curioso, mas são tantas e tão distintas as realidades de cada país retratado que a abordagem do filme acaba se tornando superficial, algumas vezes incompreensível e unilateral -só os oprimidos têm voz.
Imagine o Fórum Social Mundial, onde afloram todos os tipos de demandas por justiça -social, racial, ambiental. Este é o denominador comum do filme. Até índios contra Belo Monte tem.
"Nossa ideia é promover uma rede de solidariedade global. Há muito ego e rivalidade no meio, até porque a verba é pouca", explica Iara.
"Culturas da Resistência" foi produzido pela Fundação Caipirinha, que, além de fazer filmes, já garantiu apoio a ações como o concerto da Filarmônica de Nova York na Coreia do Norte, em 2008.
A instituição é privada e tem no milionário americano George Gund, parceiro atual de Iara, seu maior patrocinador. "Não adianta apenas fazer documentário. Tem de intervir na realidade", diz.


CULTURAS DA RESISTÊNCIA
DIREÇÃO Iara Lee
QUANDO hoje, às 14h20, no Unibanco Arteplex 5; amanhã, às 14h, no Unibanco Arteplex 4; e dia 4, às 13h, no Unibanco Arteplex 3
CLASSIFICAÇÃO livre




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