RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

No começo desta década, a atriz francesa Isabelle Huppert parecia ter se especializado no papel de pianista neurótica, sexualmente reprimida. Era a época de "A Teia de Chocolate" (2000), "A Professora de Piano" (2001) e "8 Mulheres" (2002).
A rigor, era o marido da personagem quem tocava piano no primeiro filme, mas a verdade nunca deve obstruir o caminho da ironia.
Um mérito de "Copacabana", comédia de Marc Fitoussi, é tirar madame Huppert da zona de conforto dramática. Sua personagem não é reprimida, ao contrário. Em vez de tocar piano, é louca por música popular brasileira.
Babou (Huppert) é uma parisiense de espírito livre, que gosta de maconha, sexo casual e roupas extravagantes e não se preocupa com empregos fixos, relações estáveis ou boas maneiras.
Quando descobre que a filha careta (Lolita Chammah, filha de Huppert também na vida real) não pretende convidá-la para o casamento por vergonha do comportamento dela, decide mudar.
Enquanto nutre o desejo de viajar ao Brasil, consegue emprego como corretora de imóveis no litoral belga e se torna funcionária exemplar.
Em seu terceiro longa, Fitoussi toca o filme de forma correta, burocrática, mas Huppert garante o interesse mostrando perfeito timing cômico. Funciona como um entretenimento despretensioso, mas não precisa ser encarado como prioridade em meio à maratona da Mostra.
Para o público brasileiro, o aspecto mais significativo da produção é evidenciar, de maneira acrítica, uma visão francesa sobre nosso país, com estereótipos verdadeiros ou não ligados ao Carnaval, à espontaneidade e à sensualidade.
Por outro lado, a trilha sonora tem música brasileira -interpretada por Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Marcos Valle, Astrud Gilberto e outros- em quantidade e qualidade raras de se encontrar nos filmes nacionais.