|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
vi e gostei
Radiohead compensa espera com show hipnótico
LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO
Mal tinha escurecido quando
o Radiohead subiu no palco do
enorme descampado em Neuhausen ob Eck, um quase-povoado perto de uma cidade universitária no sul da Alemanha.
O interminável line-up de
bandas naquela sexta-feira de
junho tinha deixado, para antes
dos meninos ingleses, os islandeses do Sigur Ros (que, por sua
vez, haviam acabado de enlouquecer a parte mais novinha e
alternativa do festival). Tudo
soando quase banal para aquele
público -só mais um desses
festivais sensacionais que costumam acontecer em lugares
improváveis no verão europeu.
Até os primeiros acordes de
"15 Step" pararem o tempo.
O resto foi meio hipnose, não
havia mais diferenças na platéia que pouco antes, à luz do
sol, parecia tão heterogênea.
Quem tinha 16 anos ou 50,
quem já havia visto 20 shows da
banda ou nenhum, quem gostava mais de "In Rainbows", o álbum da vez, ou do mais cabeçudo "Amnesiac", ou do quase-pop "The Bends".
Era transe coletivo. Thom
Yorke no domínio do jogo, intercalando canções obscuras de
álbuns antigos ("You and Whose Army?", alguém?) com boas
lembranças ("Just", obrigada)
com coisas que ouvimos à
exaustão nos últimos meses.
Sem folga, umas poucas palavras trocadas com a platéia embasbacada, e os efeitos de luz e
vídeo no palco ajudando a quase construir uma realidade paralela por duas horas. Sim, porque deixando aquela conversa
sobre não ser comercial de lado, o Radiohead sabe muito
bem como entreter a platéia.
Só não se ouviu o primeiro álbum, "Pablo Honey" (1993).
"Kid A" foi lembrado com "The
National Anthem", "Optimistic", "Everything in Its Right
Place" e "Idioteque", e depois
veio "Hail to the Thief", com
"There There", "The Gloaming" e ainda "2+2=5" no bis;
"Amnesiac" apareceu apenas
com "You and Whose Army?";
"Ok Computer" foi lembrado
em "Lucky" e na ótima "Paranoid Android" (fechando o bis);
e "The Bends" com "Just".
"In Rainbows" foi tocado
quase inteirinho -ficou imperdoavelmente de fora "House of
Cards"- e cantarolado com entusiasmo pelo público alemão.
Fecharam com "Idioteque", e
veio o bis supersucinto (sim, sabemos que bises são sucintos,
mas quem não quereria mais?).
Depois, só aquela sensação de
torpor ao acordar, de ir voltando à realidade -e afinal havia
valido a pena todas as horas e
milhares de quilômetros voados para estar ali, ouvindo a voz
trêmula de Thom Yorke e as
melodias atormentadas crescerem no palco e encherem a noite quente que pôs fim a 15 anos
de espera. Ao Brasil, pois.
Texto Anterior: Que crise? Próximo Texto: Vovô Kirk Douglas se engaja na blogosfera Índice
|