São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

vi e gostei

Radiohead compensa espera com show hipnótico

LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

Mal tinha escurecido quando o Radiohead subiu no palco do enorme descampado em Neuhausen ob Eck, um quase-povoado perto de uma cidade universitária no sul da Alemanha.
O interminável line-up de bandas naquela sexta-feira de junho tinha deixado, para antes dos meninos ingleses, os islandeses do Sigur Ros (que, por sua vez, haviam acabado de enlouquecer a parte mais novinha e alternativa do festival). Tudo soando quase banal para aquele público -só mais um desses festivais sensacionais que costumam acontecer em lugares improváveis no verão europeu.
Até os primeiros acordes de "15 Step" pararem o tempo.
O resto foi meio hipnose, não havia mais diferenças na platéia que pouco antes, à luz do sol, parecia tão heterogênea. Quem tinha 16 anos ou 50, quem já havia visto 20 shows da banda ou nenhum, quem gostava mais de "In Rainbows", o álbum da vez, ou do mais cabeçudo "Amnesiac", ou do quase-pop "The Bends".
Era transe coletivo. Thom Yorke no domínio do jogo, intercalando canções obscuras de álbuns antigos ("You and Whose Army?", alguém?) com boas lembranças ("Just", obrigada) com coisas que ouvimos à exaustão nos últimos meses.
Sem folga, umas poucas palavras trocadas com a platéia embasbacada, e os efeitos de luz e vídeo no palco ajudando a quase construir uma realidade paralela por duas horas. Sim, porque deixando aquela conversa sobre não ser comercial de lado, o Radiohead sabe muito bem como entreter a platéia.
Só não se ouviu o primeiro álbum, "Pablo Honey" (1993). "Kid A" foi lembrado com "The National Anthem", "Optimistic", "Everything in Its Right Place" e "Idioteque", e depois veio "Hail to the Thief", com "There There", "The Gloaming" e ainda "2+2=5" no bis; "Amnesiac" apareceu apenas com "You and Whose Army?"; "Ok Computer" foi lembrado em "Lucky" e na ótima "Paranoid Android" (fechando o bis); e "The Bends" com "Just".
"In Rainbows" foi tocado quase inteirinho -ficou imperdoavelmente de fora "House of Cards"- e cantarolado com entusiasmo pelo público alemão.
Fecharam com "Idioteque", e veio o bis supersucinto (sim, sabemos que bises são sucintos, mas quem não quereria mais?). Depois, só aquela sensação de torpor ao acordar, de ir voltando à realidade -e afinal havia valido a pena todas as horas e milhares de quilômetros voados para estar ali, ouvindo a voz trêmula de Thom Yorke e as melodias atormentadas crescerem no palco e encherem a noite quente que pôs fim a 15 anos de espera. Ao Brasil, pois.



Texto Anterior: Que crise?
Próximo Texto: Vovô Kirk Douglas se engaja na blogosfera
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.