São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

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Crítica/Cartola

Elton Medeiros faz o melhor disco do centenário de Cartola

Parceiro do criador de "Alvorada" lançou CD com Márcia; tributo "Cartola para Todos" também tem bons momentos

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Ao se tornarem clássicos, compositores passam a ser gravados por deuses e, sobretudo, diabos. Quanto mais próximo o intérprete for do universo do autor, melhor ele tende a ser.
Daí que Elton Medeiros, parceiro e amigo de Cartola, é o grande nome dos discos lançados para comemorar, neste 2008 que chega ao fim, o centenário do criador de "As Rosas Não Falam". O CD que divide com a cantora Márcia foi gravado ao vivo em 1998 e ressurge agora ainda mais atemporal.
Com produção de J. C. Botezelli, o Pelão, responsável pelos dois primeiros discos solo de Cartola nos anos 70, e inspirados arranjos de Théo de Barros, o CD se torna perfeito graças ao conhecimento de causa de Medeiros. A leveza valseada em "Divina Dama", os vibratos em "Peito Vazio", a emissão desconsolada em "Acontece", a divisão cheia de quebras em "Amor Proibido" são exemplos de uma aula de cantar samba.
Já Márcia tem um estilo mais empostado, de cantora da noite, traduzido muitas vezes como "de fossa". Em "Autonomia" e "O Mundo É um Moinho", cabe bem. A dupla termina em tom maior com "Alegria" e "O Sol Nascerá" -a mais célebre parceria Cartola/Elton. O tributo "Cartola Para Todos" é bem diferente: vários e variados intérpretes dão suas versões para os sambas do fundador da Mangueira.
A maioria opta corretamente pela sobriedade, casos de Wanda Sá ("O Mundo É um Moinho"), Edson Montenegro ("Acontece"), Mona Gadelha ("Ciência e Arte") e Thobias da Vai-Vai ("Festa da Vinda"). Dentre os que arriscam inovações, Enok Virgulino ("Ensaboa") e Lupa Mabuze ("Minha") se mostram criativos sem trair o criador. Já Rica Caveman é excessivamente irônico em "Alvorada", acentuando sotaques e efeitos, maltratando o que não deve amar.

Coletâneas
As duas coletâneas montadas para o centenário não trazem novidades e se repetem: "Divina Dama" com Chico Buarque e "Tempos Idos" com Paulinho da Viola e Toquinho estão em ambas. Mas, para quem quer um apanhado, há belas gravações como "Basta de Clamares Inocência" por Elis Regina (Som Livre) e "Tive Sim", com Cyro Monteiro (Sony&BMG).
Já comentados pela Folha, também saíram neste ano, em homenagem a Cartola, discos de Cida Moreira e chorões reunidos por Henrique Cazes.

CARTOLA
Artistas: Elton Medeiros e Márcia
Gravadora: Sesc SP
Quanto: R$ 15, em média
Avaliação: ótimo

CARTOLA PARA TODOS
Artistas: vários
Gravadora: MCD
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: bom

CARTOLA - 100 ANOS/O AUTOR E SEUS INTÉRPRETES
Artistas: vários
Gravadora: Sony&BMG
Quanto: R$ 35 (CD duplo), em média
Avaliação: bom
CARTOLA - BATE OUTRA VEZ VOL. 2
Artistas: vários
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 23, em média
Avaliação: bom



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