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Pioneiro do terror ultrarrealista é homenageado em festival de SP

Italiano Ruggero Deodato apresentará "Holocausto Canibal"

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

Difícil aplicar a tranquilizante sentença "nenhum animal foi maltratado durante a filmagem" à obra-prima do italiano Ruggero Deodato, 72.

E não são só os bichos que sofrem (às vezes até a morte). Atores também passaram por maus bocados para rodar o ultraviolento "Holocausto Canibal", banido em mais de 20 países na esteira de seu lançamento, em 1979.

O longa não foi proibido no Brasil, mas teve circulação restrita. Hoje, assombra a plateia do Cinefantasy, festival com 125 títulos do cinema fantástico que presta homenagem a Deodato.

Passados 32 anos e esguichado muito sangue na história do cinema, certos trechos da ficção ainda reviram estômagos. De empalamento a estupros espantosamente convincentes, empilham-se cenas brutais passadas no chamado "inferno verde" -tudo registrado por uma equipe que foi gravar um documentário sobre tribos canibais na Amazônia e nunca mais voltou. Um avô mais radical de "A Bruxa de Blair" (1999), pois.

"Muitas coisas me transtornam, mas ainda estou convencido de que 'Canibal' é mais forte, de alguma forma, do que ver os iraquianos cortando uma cabeça na TV, ou Gaddafi sendo espancado até a morte", disse Deodato à Folha.

PACATO CIDADÃO

Deodato conta sobre a produção barra-pesada na Amazônia como quem descreve um aprazível dia no campo -no sábado passado, por sinal, ele conversou com a reportagem pouco depois de colher azeitonas em sua propriedade, perto de Roma. "Foi uma experiência linda, e me deixou muito criativo. As locações eram incríveis, e os índios me ajudaram muito."

Quem também deu uma mão para sua carreira foi Roberto Rossellini, mestre em outro tipo de cena marcante -as da ocupação nazista no clássico "Roma, Cidade Aberta" (1945) são sua assinatura.

"Minhas memórias favoritas são de quando trabalhei com Rossellini e com outros grandes diretores. Fui alimentado de cinema por essas pessoas e acredito que a nova geração de cineastas dificilmente terá esse tipo de oportunidade."

Esse jeito de velhinho pacato, sempre à procura de palavras gentis, contrasta com a figura do diretor de um cinema visceral, já definido pelo colega brasileiro Carlos Reichenbach, 66, como "exemplo de audácia formal".

No século 21, Deodato reconhece que pisaria no freio dessa audácia. Ele não acredita que seja mais possível, por exemplo, usar animais da forma como ele fez em 1979.

"Talvez, em alguns filmes realistas, alguém ponha animais de verdade fingindo que são falsos...", diz, como quem ainda gosta de ser apanhado num flerte aberto com o cruel.

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