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Análise

Novo teatro de Niemeyer parece ter sido criado por fake

FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Oscar Niemeyer é uma lenda viva, dentro e fora do país. Não há advogado, médico ou engenheiro tupiniquim no mesmo patamar profissional.

Tampouco há um artista brasileiro mais reconhecido internacionalmente: ele ganhou todos os prêmios importantes de sua área.

Se Niemeyer fosse um cineasta, ostentaria em sua lareira meia dúzia de estatuetas -tanto europeias quanto norte-americanas.

É um gênio da raça -autor de mais de uma dezena de obras-primas- responsável por moldar com a plástica do concreto armado fantasias espaciais fundamentais para cristalizar o imaginário do Brasil moderno.

Contudo, a longevidade exauriu suas fórmulas compositivas. Dentre os projetos recentes, o teatro do Aterro do Flamengo, no Rio, é inspirado em projetos semelhantes -da Oca do Ibirapuera, em São Paulo, ao Museu da República, em Brasília.

Buscando a novidade a qualquer preço, o novo teatro possui estranhos recortes. A primeira vista até parece alguém sem o mesmo talento querendo se passar por ele -um Niemeyer falso.

A universidade em Foz do Iguaçu (PR), por sua vez, é uma piorada Universidade de Argel, criada por ele nos anos de 1960, na Argélia. Ele não detém mais o controle absoluto sobre sua produção (mais do que nunca, está na mão de sua equipe).

Comparado com ele mesmo -Niemeyer do presente com o do passado-, infelizmente, o arquiteto está terminando seus dias produzindo sua fase mais fraca.

Há quem acredite, contudo, que um Niemeyer ruim é melhor que a maioria dos arquitetos em plena forma.

Mas não é somente o beco sem saída formal que faz com que sua recente produção não emocione.

Para o bem ou para o mal, estamos distante meio século da época em que se acreditava em um futuro lírico para o país.

Como a arquitetura é uma manifestação cultural que tem um compromisso com o que está por vir, a obra recente de Niemeyer parece fora de seu tempo, insistindo com a ideia de futuro do passado que soa melancólica.

A realidade e os desafios brasileiros são outros e, esperar que ele -com quase 104 anos- proponha a cara do novo Brasil seria exigir o impossível.

Essa responsabilidade é da geração de arquitetos que poderiam ser seus netos.

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