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Teatro

Cena contemporânea chilena chega a SP

Ocupação Mirada começa hoje e apresenta quatro trabalhos que buscam novas formas de fazer teatro político

Sesc Belenzinho recebe produções que contam com apoio do Santiago a Mil, festival mais importante do Chile

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

O tradicional engajamento do teatro chileno apresenta-se atualmente revestido de novas embalagens.

Isso é evidenciado na Ocupação Mirada, mostra de quatro espetáculos inéditos em São Paulo que rompem com os preceitos habituais dos palcos em busca de uma nova roupagem ao gênero.

O evento, que acontece até 4 de dezembro, foi realizado com apoio do festival mais importante do Chile, o Santiago a Mil.

"A curadoria buscou os trabalhos mais contemporâneos e, portanto, experimentais, que estão sendo criados no Chile neste momento", explica Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

"Loros Negros", espetáculo dirigido por Manuela Infante que pode ser visto hoje, ativa a imaginação e os sentidos do espectador ao ser apresentado, em grande parte, na escuridão.

"Encenar uma peça que não pode ser vista me fez repensar o modo de fazer teatro", conta Infante.

Na obra, um homem está prestes a acabar com a própria vida, mas não consegue porque seu corpo não está de acordo com sua mente.

"O espectador é convidado a vivenciar o ataque deste corpo escuro", explica ela.

"Loros Negros" foi escrita pelo jovem Alejandro Moreno, um dos mais importantes da cena chilena atual.

Moreno também é autor de "A Amante Fascista", outro espetáculo selecionado para a mostra, em que um pequeno imprevisto doméstico serve de deixa a um mergulho onírico de tons obscuros.

Ocupação Mirada reúne também "Tratando de Fazer uma Obra que Mude o Mundo", criação coletiva da Companhia La Re-sentida que reflete sobre a utopia, e "Comida Alemã", uma versão de Cristián Plana para "Almoço Alemão", peça do austríaco Thomas Bernhard e que esteve em Rio Preto (SP) em 2010.

A história original questiona os mecanismos de controle usados pelo nazismo na Alemanha. Aqui, foi transposta para a colônia Dignidade, no Chile, uma espécie de instituição beneficente fundada por imigrantes alemães em 1961 e depois transformada em centro de tortura.

A peça acontece no porão de uma casa, um local claustrofóbico sem portas ou janelas, no qual seis jovens têm os gestos tolhidos por uma rígida supervisora.

Tomam sopa e formam um coro musical, agindo como seres destituídos de emoção, inertes.

A ação, bissexta, dá origem a uma sequência de cenas surrealistas. As palavras são ainda mais raras -quase não há diálogo no espetáculo.

"Não há conversa porque não há sujeito. Não existe subjetividade dentro deste tipo de sociedade, na qual todos foram convertidos em ovelhas de um rebanho de irmãos sem nomes, filhos de um pai sádico e onipresente", diz Plana.

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