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Folhateen

Quero ser Anderson Silva

Após lutadores virarem celebridades e Globo transmitir o UFC ao vivo, jovens correm para as academias em busca do MMA, mix de lutas que traz riscos

RICARDO MIOTO
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Há uma semana, Cláudio Ferreira, 18, começou a treinar MMA -mixed martial arts ou artes marciais mistas -, mas não contou para a sua mãe.

"Ela acha muito violento. Se volto com algum hematoma, falo que machuquei no trabalho", diz ele, que treina toda noite ao sair do restaurante onde é garçom. "Fiquei apaixonado pelo MMA quando vi brasileiros lutando na TV."

Cláudio é um dos muitos alunos, a maioria na faixa dos 20 anos, que frequentam turmas de MMA em São Paulo. De um ano e meio para cá, brotaram academias com cursos dedicados à luta na cidade.

De dez academias procuradas pelo "Folhateen", seis criaram aulas de MMA desde 2010.

O boom tem motivo. Há agora três brasileiros entre os campeões do UFC, competição que reúne a elite global do MMA.

O peso-pena José Aldo é dono do cinturão há um ano. Júnior Cigano, peso-pesado, tornou-se campeão há duas semanas, com direito a narração de Galvão Bueno na Globo.

Anderson Silva, campeão peso-médio desde 2006, conhecido pelo chute forte e pela voz fina, virou garoto-propaganda na TV e dividiu o palco com Justin Bieber em um dos seus shows no Brasil. O número de assinantes do canal de pay-per-view Combate, que transmite o UFC, aumentou 89% em um ano.

"A Globo vai se encarregar de acabar com o preconceito contra a luta", diz Francisco Nogues, gerente da academia 011, que oferece o curso. "Até na novela tem lutador de MMA. E já estou de saco cheio de ver o Anderson Silva na TV!."

Os professores estimam que, após um ano de treinamento, já é possível começar a competir como amador -usando capacete e caneleira.

É o caso de Bruno Lopes, 18. Ele já abriu o supercílio e quebrou o nariz, mas não se importa. "Quero mesmo é chegar ao UFC. Desde pequeno, vendo filmes do Van Damme, sonho em me tornar um lutador."

Bruno treina quatro horas por dia, todo dia. Não bebe e não sai à noite. Nem as meninas de shortinho aprendendo boxe na academia em que ele treina tiram a sua concentração. "Não pode perder o foco."

Outros alunos encaram as aulas apenas como atividade física. "Já joguei vôlei, mas a intensidade do exercício não se compara", diz o agente de saúde Rafael Alves, 21. Com atividades em pé e no chão, quem treina MMA fica exausto.

Professores dizem que o esporte, apesar de violento, é seguro. "A luta acaba antes que um dano mais sério ocorra", diz Anderson Nogueira, 33.

RISCOS

"O MMA, na verdade, não é nem um pouco seguro", diz a neurologista Renata Areza-Fegyveres, especialista em traumatismo. "Cada soco é um trauma no crânio. A longo prazo, eles podem causar problemas de memória, dificuldades para andar e tremores."

Ainda não há estudos sobre o MMA, mas pesquisas britânicas mostram que 57% dos boxeadores com mais de 20 lutas lidam com esses problemas.

Uma fatia menor (17%) desenvolve Parkinson ou outras doenças neurológicas mais sérias. Há um termo médico para isso: demência pugilística.

Adolescentes precisam ter uma cautela especial. "O osso está em crescimento. O MMA, por causa do forte contato entre os lutadores, oferece risco", diz o fisioterapeuta de Júnior Cigano, Arivan Gomes. "Com 12 anos, é possível começar a ensinar a técnica, sem sobrecarga, esperando até os 16 ou 17 para mergulhar no treino."

Lutadores concordam. "Cuidando para não se machucar, aos 18 dá para lutar. Vejo mesmo garotos de 16 que mandam bem", diz Rodrigo Minotauro, 35, 33 vitórias no currículo.

Mas quem quiser lutar que se prepare. "O atleta de elite precisa lidar com a dor muitas vezes, infelizmente", diz Gomes.

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