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Crítica/Drama

Fragmentação narrativa soterra o Prometeu da Cia. Teatro Balagan

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

A mitologia contra o teatro. "Prometheus: A Tragédia do Fogo", da Cia. Teatro Balagan, é um espetáculo sufocado pelo mito que pretendeu evocar. A exaustiva investigação do coletivo responsável não resultou numa obra à altura de seus ambiciosos propósitos.

Prometeu é um dos titãs derrotados pelos deuses da mitologia grega. Ele lhes rouba o fogo para dá-lo aos homens e é violentamente punido por Zeus, a divindade máxima. Sua lenda tem várias versões e foi reverberada por poetas de diversas eras, desde a Grécia arcaica até a modernidade.

A dramaturgia de Leonardo Moreira foca na relação de Prometeu (o que pensa antes de agir) com seu irmão Epimeteu (que só pensa depois de ter agido).

Esse conflito não se apresenta de forma dramática, mas é narrado como poesia épica. O dramaturgo leva em conta as variações da lenda para explicitá-la de distintos pontos de vista, operando em camadas superpostas que se repetem e se entrecruzam.

A diretora Maria Thaís responde a essas flutuações da narrativa seccionando, por vezes, a arena do espaço cênico com cortinas que o atravessam e geram nichos isolados.

O público se vê dividido e fruindo partes diferentes a cada vez que isso ocorre. À parte a beleza da solução cenográfica de Márcio Medina, em que as cortinas se juntam para formar a rocha onde Prometeu será aprisionado, a fragmentação não colabora.

A forma aberta e errática de contar a história, combinada ao acúmulo de referências não explicitadas, adensa de tal modo o discurso cênico que o torna opaco.

Se a pretensão fosse de puro arrebatamento visual, a estratégia ainda se justificaria. Mas inserida, como parece, na tradição do teatro épico, a produção demandaria mais nitidez.

A única dimensão em que as opções se revelam virtuosas é a da música. A direção musical, fundada no uso de instrumentos acústicos primitivos, gera uma sonoridade rústica intensificada pela simplicidade dos recursos. Já a enunciação de trechos em grego antigo se mostra gratuita e impostada.

Considerando a riqueza inconteste da pesquisa feita pela Balagan, tem-se aqui um caso típico de processo criativo mais relevante do que a encenação obtida.

PROMETHEUS

QUANDO de qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h; até 4/12
ONDE Tusp (r. Maria Antônia, 294, SP, tel. 0/xx/11/3123-5233)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular

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