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Autor termina livro de colega que morreu

Patrick Ness escreveu "O Chamado do Monstro" a partir de original de Siobhan Dowd, vítima de câncer em 2007

Título conta história de garoto que recebe visita de monstro enquanto enfrenta doença da mãe e bullying na escola

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

A escritora britânica Siobhan Dowd tinha 47 anos, um projeto e um câncer.

Morreu naquele ano, 2007, vítima de tumor na mama. Com ela, quase se foi também a história de Conor, um garotinho de 13 anos que precisa lidar com o câncer da mãe.

É esse esboço literário que, nas mãos do escritor norte-americano Patrick Ness, 40, virou "O Chamado do Monstro".

Eleito pelo jornal "The New York Times" como uma das publicações notáveis de 2011, o livro foi lançado no Brasil neste mês, com tiragem de 25 mil exemplares, seis vezes maior do que a média.

Siobhan já estava sob tratamento quando criou a história do menino que passa a receber, sempre à 0h07, a visita de uma criatura monstruosa em forma de árvore. Não sabe se sonha ou não.

Os maiores pesadelos de Conor, contudo, se materializam durante o dia: enquanto convive com a doença da mãe, ele é alvo de bullying na escola e tem um pai que mora em outro país, feliz da vida com a nova família.

O monstrão que aparece às noites não é uma planta qualquer. "Siobhan estava interessada no teixo, árvore antiga associado à cura. Sua casca produz remédio para câncer", explica Ness à Folha.

"É muito difícil dizer onde Siobhan termina e eu começo", continua o escritor. "Tive de pegar sua ideia e tirar um romance dali. Mas não acho que a ruptura seja óbvia."

ESTILOS DIFERENTES

Ele e Siobhan nunca se conheceram e tinham estilos literários bem distintos -em comum, um prêmio recebido por ambos: a Medalha Carnegie, prêmio britânico para livros infantojuvenis.

Quando ela morreu, o editor chamou Patrick num canto. Queria que ele tomasse para si as rédeas do projeto.

"Normalmente diria não..."... mas Patrick se viu sem saída. "A saga de Dowd realmente me pegou, e essa é a melhor coisa que acontece a um escritor: ter uma história que você realmente quer contar."

Histórias, aliás, são a força narrativa de "O Chamado do Monstro". Para forçar Conor a confrontar suas angústias, a criatura-árvore narra três fábulas de moral ambígua.

Nem tudo é preto no branco, ensinam as historietas -como o príncipe encantado que era um assassino e, após tramar contra a madrasta má que não era bruxa, virou um rei justo para seu povoado.

Histórias são criaturas selvagens, diz o monstro no livro. "Quando você as liberta, como saber a devastação que elas podem causar?"

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