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Crítica história

Reedição testa permanência do estudo de Caio Prado Jr.

'Formação do Brasil Contemporâneo' inovou ao retratar o período colonial

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O retrato do Brasil Colônia como sociedade voltada para o exterior nos é tão familiar que é como se tivesse sempre existido.

O relançamento de "Formação do Brasil Contemporâneo", de Caio Prado Jr. (1907-1990), porém, corrige essa impressão: trata-se de uma concepção de 1942, quando o livro foi publicado pela primeira vez.

O argumento central, "o sentido da colonização", é que o Brasil estava destinado a fornecer gêneros tropicais à Europa. "A nossa economia se subordina inteiramente a esse fim", escreve o autor.

Essa capacidade de criar narrativa a partir de uma lógica, e não de recortes cronológicos ou espaciais, levou a historiador Fernando Novais a considerar a obra "o primeiro corte epistemológico na historiografia brasileira".

Comunista, Caio Prado trabalhou com as ferramentas do materialismo histórico. Suas conclusões, porém, bateram de frente com a análise esquemática do (PCB) Partido Comunista Brasileiro.

Para o PCB, o Brasil teria tido um período feudal, cuja herança deveria ser combatida por uma revolução burguesa, que, com o tempo, abriria espaço para o socialismo. Para Caio Prado, tal feudalismo não passava de construção ideológica sem fundamento, pois a colônia era parte do sistema capitalista mercantil.

Com "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, e "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado forma o tripé de interpretações do Brasil.

Como seus pares, porém, ele não paira acima de críticas. A menos importante é que o livro contém expressões racistas. Índios e negros são descritos como pertencentes a "raças inferiores".

Não convém, entretanto, privilegiar a chave de leitura politicamente correta. Apesar do mal-estar que provoca no leitor contemporâneo, como nota Bernardo Ricupero no posfácio, tal abordagem não era uma aberração sete décadas atrás, e julgá-la segundo valores atuais implica em anacronismo.

Uma ressalva mais pertinente diz respeito ao fato de Caio Prado ter subdimensionado a importância do mercado interno. Como mostram estudos posteriores ao seu livro, apesar da escassez de moeda, um contingente de pequenos proprietários, artesãos e negros alforriados movimentava a economia.

O relançamento das principais obras de Caio Prado testará a atualidade do autor, que é também fustigado pela ascensão da nova história, tendência que tem no marxismo seu maior alvo.

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