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'Minha poesia é feita de silêncios', diz mexicano

Após a morte do filho, Javier Sicilia passou a criticar o governo de Calderón

Escritor defende um maior engajamento da sociedade e vê a Primavera Árabe como exemplo a ser imitado

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A GUADALAJARA

Javier Sicilia, 55, é um homem sorridente e cordial.

Quando está longe do microfone. Uma vez de posse do objeto, é enfático e sobe o volume na hora de fazer acusações ao governo mexicano e a sua guerra ao narcotráfico, que já causou a morte de mais de 40 mil pessoas. Uma delas, seu filho de 24 anos.

O jornalista e poeta foi uma das figuras de destaque da Feira Internacional de Literatura de Guadalajara, que acontece até amanhã na cidade mexicana.

Sicilia já era um intelectual conhecido e respeitado antes do assassinato de Juan Francisco, em março, por criminosos ligados aos cartéis.

A partir de então, evocando a frase do filósofo alemão Theodor Adorno (1903-69), sobre ser um ato de barbárie continuar escrevendo poesia depois de Auschwitz, Sicilia abandonou os versos.

"Continuo sendo poeta, mas minha poesia agora é feita de silêncios", diz.

Passou a dedicar-se ao ativismo social, pedindo a saída do presidente Felipe Calderón (PAN), a quem responsabiliza pelo aumento da violência no país.

Sicilia promoveu manifestações e uma caminhada de mais de 4.000 quilômetros, realizada com outros intelectuais e familiares de vítimas.

Contra Calderón, enviou uma denúncia com 23 mil assinaturas para a Corte Penal Internacional.

Na FIL, responsabilizou o governo por não ter protegido Nepomuceno Moreno, um pai que buscava seu filho sequestrado. "Ele vinha sendo ameaçado de morte. O governo sabia e o abandonou."

Moreno foi assassinado no começo da semana.

Sicilia apresentou no evento o livro "Hasta la Madre" (editora Planeta), reunião de textos em que comenta a situação do país.

Também participou de um acalorado debate com o ensaísta político Enrique Krauze, que lançava "Redentores" (Benvirá), sobre figuras políticas da América Latina.

Partindo de personagens mencionados no livro, como Eva Perón e Hugo Chávez, os dois intelectuais conversaram sobre o papel do Estado na América Latina.

Sicilia defende maior engajamento da sociedade e costuma citar os exemplos da Primavera Árabe e dos indignados espanhóis como algo a ser imitado.

Seus críticos o veem como antidemocrático ao desautorizar o governo e colocar a representatividade em questão.

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