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Análise

Christa Wolf, autora de "Cassandra", foi a maior cronista da Alemanha Oriental

MARCELO BACKES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Christa Wolf, que morreu anteontem, aos 82 anos, está para a Alemanha Oriental como Günter Grass está para a Ocidental.

Ambos foram consciências da nação e apresentam marcas dúbias em suas biografias: Grass serviu à SS [tropa de elite do regime nazista] e escondeu o fato por muito tempo, Wolf foi a espiã "Margarete" a serviço da Stasi [serviço secreto da Alemanha Oriental].

Nascida em 1929 em Landsberg an der Warthe, hoje na Polônia, Wolf venceu os maiores prêmios literários da Alemanha.

Sua obra é um eterno debate com o sistema de seu país: passou da euforia com o Estado socialista a uma crítica contida ao regime nos anos 1960 (quando é aceita como "dissidente leal" por ainda ver no socialismo o único caminho), até chegar a conflitos cada vez maiores com a doutrina nos anos 1970, ao passar a defender o conceito de "autenticidade subjetiva".

Em "Em busca de Christa T." (1968), publicado no Brasil, Wolf analisa a Alemanha Oriental a partir da relação entre duas amigas, um afastamento, um reencontro e a morte de uma delas.

A experiência social é sempre vinculada à pessoal em sua obra, e continua assim em "Stadt der Engel oder The Overcoat of Dr. Freud", o romance derradeiro, de 2010.

"Cassandra" (1983), que também saiu no Brasil, é sua narrativa mais conhecida. Tornou-se uma espécie de manual dos críticos da Guerra Fria mesmo no lado ocidental, onde saiu antes da publicação oriental.

No centro, o mito grego como painel de fundo para uma guerra entre os sexos que tematiza a paz em perigo.

Se "Cassandra" é um monumento de qualidade à chamada literatura feminina, é também um grande documento da época.

A depressão com a corrida armamentista e o pessimismo ante as catástrofes ecológicas ocupariam também o centro da consciência ocidental, como mostra "A Ratazana" (1986), de Grass.

O feminismo sinalizado em obras anteriores e tematizado em "Cassandra" atingiria o ápice em "Medea" (1998).

Wolf foi a maior cronista da Alemanha Oriental e talvez a mais importante escritora alemã do pós-Guerra.

Depois de fugir do Exército Vermelho com a família em 1945, logo se convenceria dos ideais do socialismo e se filiaria ao SED, partido que governaria a Alemanha Oriental até 1989.

Ainda neste ano, pouco antes da queda do Muro de Berlim, assinaria o manifesto "Por Nosso País", mostrando acreditar em um recomeço para a pátria moribunda.

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