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Torres-García tem mostra na Pinacoteca

Retrospectiva apresenta 150 trabalhos do artista uruguaio, pioneiro do construtivismo na arte latino-americana

Exposição que já passou por Porto Alegre traz afrescos do início da carreira, aquarelas e pinturas do artista

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Numa de suas primeiras composições construtivistas, Joaquín Torres-García escreveu "o descobrimento de si mesmo". Era como se já soubesse que trocaria os afrescos neoclássicos que vinha fazendo para se tornar um dos maiores nomes do geometrismo na arte latino-americana.

Mesmo nas paisagens urbanas que o artista uruguaio morto em 1949 pintou no começo do século passado, uma vontade construtiva relegava a um segundo plano a definição precisa das formas, transformando as casas em manchas orquestradas de cor.

Talvez por influência dos cubistas e depois pelo fascínio por uma sociedade mecanizada, a obra de Torres-García, agora em retrospectiva na Pinacoteca do Estado, parece ter atingido o auge construtivo depois de suas viagens a Paris e Nova York.

Na capital francesa, ele fez aquarelas como se fossem croquis da vida moderna, de trajes da moda, carros e o frisson das galerias comerciais. Sobre os desenhos, estampou "Paris" em letras enormes, como se tentasse construir uma taxonomia de cidades.

Desenhou a loja de sabão, uma cartela de fósforos e os esqueletos das casas -embrião do que faria depois em suas composições abstratas que, nem por isso, ignoravam índices banais da realidade.

Quando vai a Nova York, onde fez e vendeu brinquedos para se sustentar, ele já trabalhava em paralelo aos quadros com construções em madeira, como se buscasse uma dimensão concreta para as formas de suas telas.

Num diário que escreveu nos anos 20, Torres-García exaltava a "regularidade, a exatidão da hora, coisas iguais a milhares de outras" que viu nos Estados Unidos, o passo decisivo para abrir a fase mais madura de sua produção, em que impregnou rigorosas tramas geométricas com signos do cotidiano.

Tanto que catalogou esses signos em colagens de recortes de jornal e aquarelas -de cigarros Camel a um estudo do figurino das melindrosas.

NOVO CLASSICISMO

Todo esse universo parece ancorar, de uma forma diluída, a fase mais cerebral de sua obra, de geometrismo exacerbado e esquemático. É como se Torres-García filtrasse do mundo o essencial.

Suas figuras humanas viram linhas, olhos, boca e contornos mais duros -uma tradução das máscaras africanas que informaram o cubismo. Não por acaso, ele escreveu num quadro que "terá cada um de ser um primitivo e trabalhar só o elementar".

Na ambição por forjar um "novo classicismo" na América, Torres-García criou um repertório de signos recorrentes que alternava com as formas geométricas puras em seus quadros. Entre eles, relógios, peixes, âncoras, casas e elementos arquitetônicos.

Mas tudo isso figura nas telas com vontade própria, num esforço do artista não de imitar, mas de igualar, com o mesmo peso no registro, a trama ortogonal e a tradução estilizada desse repertório.

"A pintura é abstrata na medida em que é gerada no espírito, sem querer copiar ou imitar", escreveu Torres-García. "É concreta na medida em que os elementos na tela são absolutos, como um plano de vermelho ou de preto, um ângulo ou uma forma que tem um valor em si."

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