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Crítica/Documentário

Diretor acha na palavra o sublime de cada personagem

CRÍTICO DA FOLHA

"As Canções" é um repouso para Eduardo Coutinho, o retorno a um caminho já testado (e aprovado), o momento em que um procedimento busca fixar-se, em vez de avançar ao desconhecido, como costuma operar o diretor.

Não se espere, portanto, nada tão provocativo ou intrigante quanto "Moscou" ou "O Fim e o Princípio". "As Canções" é descendente de "Edifício Master", um momento memorável do cineasta.

Ali, ele conversava com pessoas como quaisquer outras. Mas parece que ninguém é comum quando se encontra com Coutinho e sua refinada arte da curiosidade.

Em suas mãos, toda vida revela-se bem urdida, apaixonante ficção. E parte desses encontros se torna evento digno de ser registrado.

Num dos melhores momentos de "Edifício Master", um entrevistado cantava: era a sua maneira de exprimir uma série de sentimentos.

De certa forma, "As Canções" começa onde termina "Master". É como se Coutinho tivesse decidido explorar aquilo que cada um pode ser e quer dizer pela música.

Uma correção: não se trata de um caminho já trilhado. Não é bem isso. Colocar diversas pessoas para se expressar por canções implica o desconhecido. A resposta das pessoas é que dá um ar de caminho já trilhado à empreitada.

As músicas variam mais do que os sentimentos. Esses são bem restritos. As mulheres com frequência evocam amores perdidos. Os homens têm não raro do que se arrepender de suas atitudes em relação às mulheres.

Os sentimentos podem ser expressos por muitas músicas, mas sua gama é restrita.

De modo geral, são as lembranças de amor que dão o tom. Mas o filme não se faz só de canções. Existe quase sempre o depoimento do personagem, esse embate de que Coutinho não consegue fugir, seja pelo simples gosto da prosa, seja por intuir que, no que dependa só das músicas, o filme não vai se aguentar.

Não é que as músicas, como expressão, sejam desinteressantes. É que é na palavra que Coutinho consegue achar o sublime de cada um.

Na música, os personagens expressam seus sentimentos. Elas nos trazem certo repouso. E fica a sensação de que Coutinho, depois do sensacional (e inédito, por questões de direito) "Um Dia na Vida", também.

(INÁCIO ARAUJO)

AS CANÇÕES

DIRETOR Eduardo Coutinho
PRODUÇÃO Brasil, 2011
ONDE Espaço Unibanco Augusta e Frei Caneca Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom

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