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Coletânea de Aline Crumb sai pela 1ª vez no Brasil

Livro traz histórias autobiográficas que revelam suas aventuras sexuais

Casada com Robert Crumb, artista diz que, graças a ela, ele passou a refletir sobre a vida em seus quadrinhos

ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Deve ser irritante para uma mulher que, nos loucos anos 1960, integrou um pioneiro grupo de cartunistas feministas (Wimmen´s Comics) e, com ele, iniciou uma pequena revolução nos quadrinhos, desenhando histórias autobiográficas que retratavam todo o tipo de porra-louquice da época, ser hoje primeiramente lembrada como "a senhora Robert Crumb".

"É maçante: além de fazerem comparações superficiais entre a minha obra e a dele, muitas pessoas são legais comigo só porque querem conhecê-lo. Ainda hoje me deixo enganar. No fundo, continuo sendo uma velha hippie inocente", conta, rindo, Aline Kominsky-Crumb.

Casada há mais de 30 anos com um dos mais importantes cartunistas do mundo, somente agora, aos 63, Aline tem um livro publicado no Brasil (leia crítica ao lado).

"Essa Bunch É um Amor", com prefácio do escritor Harvey Pekar (1939-2010), reúne tirinhas de um álbum de 1975 e de um de seus mais recentes, "Need More Love".

Todas elas trazem como protagonista Bunch, alter ego de Aline. Com traço cru, e alguma semelhança com os personagens de Crumb, ela relembra a sua infância numa família judia e esnobe, em Long Island (Nova York), passa pela adolescência rebelde, momento em que começou a frequentar clubes de rock, beber e usar drogas, além do período em que morou em San Francisco, cidade em que conheceu e se casou com Crumb, e a mudança para a França, onde vivem.

Nos pormenores dessa trajetória, Aline descreve suas frustrações, sonhos consumistas (ela adora comprar sapatos e viajar a Paris) e experiências sexuais, antes e depois do casamento. "Já tivemos altos e baixos", fala ela sobre o matrimônio, descrito como uma relação aberta.

"Estamos juntos há mais de 40 anos. Eu o conheci aos 23 e, se não houvesse a possibilidade de dar um refresco, não teria durado tanto tempo. Não recomendo para outras pessoas, porque não é fácil. Mas nos orgulhamos um do outro."

Muitos dos desenhos de Aline são em parceria com Crumb. Entre eles, as colaborações para as revistas "New Yorker" e a brasileira "Piauí", além de livros em conjunto.

Nestes, o sexo é ainda mais explícito. "É uma piada", diz ela. "Não queremos que as pessoas pensem: 'como eles estão velhinhos, nem devem mais fazer sexo'. Então, desenhamos coisas realmente perversas!"

A intensa vida de Aline Crumb sempre foi tema de seu trabalho artístico, seja ele a pintura ou os quadrinhos.

"Estudei num instituto de artes, em Nova York, mas o cenário ali, em 1960, era pretensioso e abstrato, e sempre fui ligada ao expressionismo alemão. Me sentia deslocada", revela. "Quando conheci a revista underground Zap Comics, me encontrei."

Suas primeiras criações, segundo ela, eram odiadas. "Quebramos muitas barreiras ao tratarmos da vida real e explorarmos o sexo de maneira bem-humorada."

Aline acredita que essa foi sua principal influência sobre Crumb, que passou a ser "mais honesto e refletir sobre a vida em sua obra".

"Por outro lado", completa, "graças ao modo obsessivo de Robert trabalhar, me tornei mais disciplinada".

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