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Crítica quadrinhos Autora elabora vultuoso relato crumbiano em primeira pessoa ALEXANDRA MORAESEDITORA-ADJUNTA DA “ILUSTRADA” Tem algo de Robert Crumb em Aline, é óbvio. A introdução feita pelo amigo Harvey Pekar, de quem Crumb foi parceiro em "American Splendor", ou a admiração por Charles Bukowski estão lá. Algo das formas crumbianas também. Acontece que Aline é crumbiana de verdade. Suas pernas grossas, o traseiro enorme e a comilança não são emulações da obra do marido -são ela mesma. Em "Essa Bunch é um Amor", ela narra a infância desajeitada, as brigas entre pai e mãe e sua impressão sobre o caráter destrutivo da vida fútil que levavam. A pouca identificação com a comunidade judaica de classe média em que vivia, a busca hippie e o casamento com Crumb são etapas num caminho construído sobre dúvidas, fossem elas de fundo terno ou de caráter puramente escatológico. Aline, de traço esforçado, também comenta sua inabilidade para o desenho -e sua vontade, desde a infância, de "ser artista". Se o desenho titubeia, as palavras são quase sempre certeiras, numa obra que se mostra um vultoso quebra-cabeças da identidade feminina nos últimos 40 anos. Consumismo e amor, dúvidas e inseguranças, filhos e a permanente sensação de que não estamos fazendo o bastante, aspiradores de pó e a permanente sensação de que não limpamos o bastante. "Tenho de tudo um pouco! Micro-ondas, frustração sexual, angústia existencial, medo de solar o bolo, pouco instinto materno, bugigangas dos anos 1930, baixa autoestima, vontade de viajar, lembranças", diz a autora em "Reflexões Profundas na Minha Cozinha". Aos poucos, revela que o desenho feioso não é só falta de habilidade. É também reflexo de como ela se vê. O que Aline Crumb faz é pegar uma boa quantidade de autodepreciação disforme e moldá-la numa arte cheia de graça. - Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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