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Crítica/ Ópera Representação de 'O Morcego' mostra traços antropofágicos Diretor William Pereira traz a opereta de Johann Strauss II para o século 21 SIDNEY MOLINACRÍTICO DA FOLHA Na terra do "cada um faz o que gosta", "esquecer é viver": em cartaz no Theatro Municipal, a opereta "O Morcego" (1874), de Johann Strauss II (1825-1899), expõe a efemeridade dos relacionamentos e aposta na festa como centro da vida. O diretor William Pereira trouxe a cena para o século 21 e preparou uma cuidadosa versão cantada e falada em português. Não parece ter sido difícil para o público digerir a nova ambientação, uma vez que residência nobre (primeiro ato), balada (segundo ato) e prisão (terceiro ato) são arquétipos da vida burguesa. Mas a transposição idiomática das melodias nem sempre é bem aceita: "o original é mais bonito", ouvia-se no café durante os intervalos; ao longo da noite, porém, o estranhamento diminuiu. De toda forma, a distância histórica ora pode aguçar o senso crítico, ora protegê-lo de nossas mazelas, e a montagem de Pereira assume um traço antropofágico ao impor o Brasil moderno à Viena da belle époque. Infelizmente a música de Strauss é avessa a ironias, o que foi compensado pela fusão virtuosística (criada por Miguel Briamonte) de trechos de óperas com Hollywood, Broadway e carnaval. A simulação de um ataque homofóbico na abertura talvez tenha sido excessiva, e a caracterização do Príncipe Orlofsky como andrógino drogado ficou caricata. Uma pena para quem viu a mesma Regina Elena Mesquita engraçadíssima nesse papel em 2008 no Pará. Complexo, o espetáculo foi bem preparado, e a música esteve sempre em alto nível, com ótima integração entre Orquestra Sinfônica Municipal, Coral Lírico, bailarinos e o incrível time de solistas, tudo coordenado pela regência elétrica de Abel Rocha. Fernando Portari, Rosana Lamosa, Rubens Medina (ótimo como Alfred), Leonardo Neiva, Inácio de Nonno e o ator Fulvio Stefanini estiveram muito bem. Mas os aplausos finais não deixam dúvida para o destaque de Edna D'Oliveira como a impagável Adele. Fechado durante metade do ano, o Theatro Municipal apresentou uma temporada digna: agora é torcer para que ela continue assim em 2012. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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