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Em suas obras, artistas brancos buscam beleza negra

DE SÃO PAULO

Brancos olham muito para os negros. Se os negros não costumam estar por trás das obras em grandes mostras, eles figuram em fotografias, vídeos e telas como objeto da criação de artistas brancos.

Na Bahia, ponto de partida de artistas como Emanoel Araujo e Rubem Valentim, fotógrafos brancos como Pierre Verger e Mário Cravo Neto dedicaram suas carreiras à documentação de rituais religiosos e da vida cotidiana de afrodescendentes.

Em imagens em preto e branco, a cor da pele virou elemento plástico, de fortíssimo contraste, contra o sol esgarçado dos trópicos.

Cravo Neto explorava essa pele escura com destreza, criando composições quase táteis, em que os poros de seus retratados pareciam se fundir com a película fotográfica, o que críticos chamaram de "carnalidade da imagem".

Esse mesmo elemento também fascinou o norte-americano Robert Mapplethorpe, que tratava seus modelos quase como esculturas de mármore, identificando no corpo dos negros um aspecto pétreo que tentou imortalizar em sua fotografia.

Miguel Rio Branco, em fotografias coloridas, também explorou essa beleza de cores vibrantes quando retratou boxeadores no Nordeste.

Íntimo do apartheid, o sul-africano Pieter Hugo, branco descendente de holandeses, fotografa negros com ar exótico em vários países africanos, como atores da indústria cinematográfica da Nigéria ou grupos que criam hienas e outros animais selvagens como bicho de estimação.

Na contramão disso tudo, a última Bienal de São Paulo abriu espaço para alguns artistas angolanos, todos negros, que refletem sobre questões políticas, em especial resquícios sangrentos da guerra civil, em suas obras.

Mas, mesmo nesses trabalhos, parece prevalecer um olhar mediado, a busca por uma espécie de futurismo africano, plástico e fantástico, que não agredisse olhos europeus -mais um abismo em preto e branco.

(SM)

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