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Crítica/Teatro Peça toma Poe pela superfície, sem olhar sua riqueza poética LUIZ FERNANDO RAMOSCRÍTICO DA FOLHA A sombra do novo em um teatro velho. "A Cripta de Poe", criado a partir de algumas histórias do norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), define-se como um espetáculo multimídia. Parceria da Cia. Nova de Teatro com o grupo italiano Teatro del Contagio, oferece uma profusão de imagens projetadas em paralelo às narrativas de Poe, mas sempre para, apenas, ilustrá-las. Poe foi um escritor inventivo. Experimentou pioneiramente com a linguagem. Seu projeto, antes de tocar temas obscuros, visava concretizar novas formas de escritura. O encenador Lenerson Polonini adapta trechos de quatro de seus contos e de um poema no registro da chamada estética gótica, caracterizada por atmosferas sombrias e sentimentos necrófilos. Toma a obra de Poe pela superfície, sem olhar a riqueza poética de sua estrutura, afeita à composição exata. O vídeo-cenário criado por Acauã Fonseca e Alexadre Ferraz é exuberante e expõe ininterruptamente imagens muito trabalhadas como fundo de cada um dos trechos apresentados. O maravilhamento com as imagens, aos poucos, dá lugar a um incômodo com a redundância da fórmula. Textos vagos, ditos em italiano com legendas ou em português, tornam-se puramente evocativos. Os intérpretes são compenetrados e desempenham com rigor suas partituras. Essa qualidade, porém, assim como as narrações gravadas de Paulo César Peréio, não aliviam a impressão de que se está evitando um enfrentamento verdadeiro com a poética de Poe. Nem a incisiva ambientação sonora de Wilson Sukorski consegue movimentar a encenação para além desse lugar estático, como o do teatro simbolista do fim do século 19, em que imagens fantasmagóricas faziam fundo a enredos enigmáticos. De fato, o encenador não conseguiu revelar o mito Poe numa leitura própria e para além dos chavões. A pretensão de novidade não esconde a velhice do olhar. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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