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Crítica/Jazz

Keith Jarrett confirma o impacto dos livres improvisos líricos

Em álbum gravado no Rio, pianista norte-americano vai do jazz ao boogie-woogie no formato que o consagrou

FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

POR NÃO FAZER DE SEUS RECITAIS UM ESPAÇO PARA RELEITURA DE CANÇÕES, O PIANISTA MANTÉM A AURA DE FRESCOR DE SUA MÚSICA

Foi na década de 1970 que Keith Jarrett desenvolveu uma fórmula de enganosa aparência simples para suas apresentações solistas.

A proposta consistia em utilizar o piano de maneira livre, improvisando sem o apoio de canções ou mesmo de singelos temas de partida.

Curiosamente, a ousada experiência caiu no gosto do público e produziu o clássico "The Köln Concert" (1975).

Ao desembarcar no Brasil em abril, Keith Jarrett vinha exibir essa sua faceta solista. E levou daqui uma gravação, este "Rio" que agora chega ao mercado.

O concerto oferecido no Theatro Municipal do Rio mostra que o formato imortalizado por Jarrett permanece impactante e envolvente.

Disco duplo, "Rio" apresenta o pianista desenvolvendo seus líricos improvisos livres por cerca de 90 minutos, divididos em 15 partes.

Sua música exala as díspares referências que moldam sua trajetória, oscilando entre passagens que ora ecoam a vida de jazzista, ora a veia de pianista clássico.

Sonoridades populares surgem lapidando ritmos e harmonias inesperados.

Basta notar como a presença suingante do boogie-woogie fortalece a "Part 11" ou como certo aroma flamenco emana da "Part 13". Mas tudo de forma sutil, sem descaracterizar o som de delicada fatura do pianista.

GESTO POR GESTO

O respeitoso silêncio do público permite que se ouça cada gesto de Jarrett, com o som tirado dos dedos sendo envolvido apenas pelo seu singular cantarolar.

Talvez se todo o concerto espelhasse o quebradiço abstracionismo da "Part 10", o público não ficasse tão seduzido pela arte do instrumentista. Mas ele dispensa correr tal risco.

Para Jarrett, o campo melódico sempre foi mais relevante do que para Cecil Taylor, outro músico fundamentalmente ligado a improvisações solistas ao piano.

Por mais que divague, Jarrett sempre deixa algo no ar para que o ouvinte possa se apoiar. Possivelmente seja este um dos motivos para ele ser infinitamente mais conhecido e amado do que Taylor.

O fato de não fazer de seus recitais um espaço para releitura de canções ajuda o pianista a manter a aura de frescor de sua música.

Em 2009, lançou um outro disco de piano solo, "Testament", captado em apresentações em Paris e Londres. E o resultado é bem distinto do revelado neste novo trabalho.

É notável como Jarrett está centrado em "Rio". Espanta imaginar que tal apresentação jamais se repetirá -afinal, trata-se de improvisações. O que consola é o fato de tudo ter sido registrado. Música para se ouvir sem pausas, noite adentro.

RIO

ARTISTA Keith Jarrett
LANÇAMENTO ECM/Borandá
QUANTO R$ 100, em média
AVALIAÇÃO ótimo

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