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Crítica/Jazz

Shepp homenageia mulheres em álbum doce e dramático

Boa notícia é que o saxofonista não canta em 'Wo!Man', disco em duo com o pianista Joachim Kühn

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

SHEPP MOSTRA NOVAMENTE COMO SABE REINVESTIGAR COM MAESTRIA TEMAS GRAVADOS TANTAS VEZES ANTES, SEM SOAR REPETITIVO

Archie Shepp é, ainda hoje, bastante associado ao free jazz sessentista. Faz muito tempo, entretanto, que o saxofonista americano decidiu amaciar a sua pegada.

Assim, não chega a ser surpresa encontrá-lo tocando de forma tão docemente dramática em seu mais recente álbum, "Wo!Man", que é um duo com o pianista alemão Joachim Kühn.

Em maio passado, quando deu concertos em São Paulo, Shepp, 74, mostrou que não há mais porque manter seu nome indissociavelmente ligado ao free jazz, do qual foi um dos protagonistas.

Buscando uma comunicação mais ampla com o público, o instrumentista embebedou seu sopro de blues e abandonou certos radicalismos.

"Wo!Man" expressa bem esse rumo. Dividido entre temas novos e clássicos resgatados, o disco é recheado de faixas com títulos que, de alguma forma, fazem referência ao universo das mulheres.

Para os que ficaram incomodados com o fato de Shepp ter insistido em cantar nas apresentações que fez no país, a boa notícia é que, em "Wo!Man", o músico se concentra apenas no saxofone.

Começar a audição pelo standard "Sophisticated Lady" é uma boa forma de compreender qual é a proposta do trabalho.

A lenta e robusta interpretação dada à balada mostra o saxofonista em sintonia com antigos mestres do instrumento, como Ben Webster (1909-73) e Coleman Hawkins (1904-69).

Outra releitura arrebatadora é a destinada à introspectiva "Lonely Woman", escrita em 1959 por Ornette Coleman.

A faixa começa com Kühn sozinho ao piano, beliscando o tema central da composição, preparando os ouvidos para a entrada de um dolorido sax -é difícil não se arrepiar. A partir de então, são dez minutos de divagações cativantes.

Shepp mostra nessas duas faixas como sabe reinvestigar com maestria temas gravados tantas vezes antes, sem soar repetitivo. Quem já ouviu sua versão para "Garota de Ipanema", que aparece no álbum "Fire Music" (1965), conhece essa sua habilidade.

O clima soturno de "Wo!Man" se mantém em "Harlem Nocturne" e na inédita "Nina", que trazem marcas "bluesy" bem presentes.

"Drivin' Miss Daisy" oferece um outro sabor, muito mais suingante e cantarolável do que os outros momentos da obra. Aqui, Shepp deixa seu sax tenor soar mais áspero, sem chegar a ser incendiário.

O pianista alemão assina apenas "Transmitting", que abre o disco em rotação distinta, com outra profundidade. Kühn dita o rumo na faixa, levando Shepp primeiramente a acompanhá-lo em um repetitivo tema, antes de libertar seu sopro no solo mais saboroso do conjunto.

(FABRICIO VIEIRA)

WO!MAN

ARTISTA Archie Shepp
GRAVADORA Archie Ball/Harmonia Mundi
QUANTO US$ 17,46 (R$ 32,65 mais taxas, em amazon.com)
AVALIAÇÃO bom

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