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Crítica / Música clássica

Maturidade da Osesp e honestidade de Freire encerram 2011

TORTELIER TRADUZ INTELIGÊNCIA E REFINAMENTO EM SOM. EXIBE DESENVOLTURA NOS REPERTÓRIOS INGLÊS, RUSSO E FRANCÊS

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Ao comparar uma gravação ao vivo da Osesp em 2006 com o som atual é possível perceber a evolução: afinação das cordas, equilíbrio, dinâmica, padrão sonoro.

O maestro francês Yan Pascal Tortelier é um dos responsáveis por esse desenvolvimento. No sábado ele regeu o último concerto na Sala São Paulo como titular da orquestra e, em 2012 -com a chegada de Marin Alsop-, passa a regente convidado de honra.

Foram três temporadas. Sua técnica um tanto idiossincrática algumas vezes incomoda os músicos; mas, se falta clareza ao gesto, sobram ideias e nuances.

Tortelier traduz inteligência e refinamento em tempo e som. Ele exibe desenvoltura nos repertórios inglês, russo e -é claro- francês, este escolhido para o concerto de despedida no sábado.

Equilíbrio invejável entre flauta e trompete, surpreendentes contrastes dinâmicos e equalização matizada marcaram os excertos da "Carmen", de Bizet (1838-1875), e de "O Cisne", de Saint-Saëns (1835-1921).

O título "Alegria Parisiense" diz tudo o que importa sobre o arranjo de temas de Offenbach (1819-1880), e o sotaque francês de Milhaud (1892-1974) em "O Boi sobre o Telhado" mais esconde do que mostra a música popular brasileira feita no início do século 20.

Debussy (1862-1918) e Ravel (1875-1937) foram os melhores momentos: no "Clair de Lune" a massa das cordas virou ressonância de uma simples harpa, e o popular "Bolero" esteve quase perfeito na difícil arte de fabricar os timbres, um sintetizador natural "avant la lettre".

Talvez o auge da era Tortelier tenha sido a turnê europeia de 2010 e, tal como no lendário Musikverein de Viena, no sábado o bis foi a sua melodia brasileira predileta: um trecho do "Choros nº 6", de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), tocado com gratidão e emoção.

VAIDADE ZERO

Para quem pensava que 2011 já havia terminado eis que Nelson Freire nos brinda com um recital solo, na última segunda, no Theatro Municipal de São Paulo.

Ao andar em direção ao piano seus olhos procuram o invisível, o som que cabe construir. Atacou o "Arabesque" op. 18 de Schumann (1810-1856) em puro transe, superpondo graus de leveza.

O pianista mineiro já não toca para si, e nem mesmo para o público. "Honestidade" pode ser uma palavra: com cada trecho de cada obra, sem desvios, vaidade zero.

O amor ele devota diretamente a notas e acordes, e atinge mesmo o tempo vago daquilo que é menor, desprezado, solitário -como nas "Visões Fugitivas", de Prokofiev (1891-1953), ou em "La Maja y el Ruisenõr", de Granados (1867-1916).

Depois de Liszt (1811-1886), voltou para cinco números extra, de Bach a Villa-Lobos.

Um dos melhores concertos de 2010 havia sido Nelson Freire com a Osesp regida por Tortelier: será que dá para incluir o recital de segunda-feira entre os melhores de todos os anos?

OSESP E TORTELIER

AVALIAÇÃO bom

NELSON FREIRE

AVALIAÇÃO ótimo

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