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Crítica Teoria Literária

Lukács opõe-se ao avanço do nazismo com sua obra teórica

MAURICIO PULS
DE SÃO PAULO

O LIVRO É UMA APLICAÇÃO, À ESFERA ESTÉTICA, DA ESTRATÉGIA DEFENDIDA POR LUKÁCS PARA DETER O AVANÇO DO NAZISMO

Escrito por György Lukács no exílio entre 1936 e 1937, "O Romance Histórico" tinha um claro objetivo político: ajudar os escritores que combatiam Adolf Hitler a criar obras que explicassem "como foi possível que esse bando de assassinos chegasse ao poder em um país como a Alemanha".

Para ele, a grande fraqueza dos romancistas modernos residia em só oferecer aos leitores "a pré-história abstrata das ideias que movem o presente, e não a pré-história concreta do destino do próprio povo", tal como faziam os autores do século 19.

Segundo Lukács, o romance histórico surgiu com a Revolução Francesa, que, ao levar a guerra a toda a Europa, transformou a própria história numa experiência de massa, seja pela destruição generalizada, seja pela incorporação forçada da população aos novos exércitos nacionais.

O primeiro autor a retratar essa experiência coletiva em uma nova forma literária foi Walter Scott com "Waverley" (1814). Em vez de utilizar o passado como um pretexto para expor os conflitos da época, Scott procurava na história as origens do presente.

Criou assim um gênero que logo ganhou adeptos em todo o Ocidente (Púchkin, Gógol, Manzoni, Cooper, Stendhal, Tolstói), mas que pouco a pouco cedeu lugar à refiguração direta do presente.

A virada se acentuou após a Revolução de 1848: a intelectualidade burguesa perdeu a confiança no progresso e o elo entre passado e presente se rompeu. O romance histórico se converteu num gênero decadente.

Lukács não abordou os romances publicados após 1937 e nem viveu o suficiente para ver o ressurgimento do gênero nos anos 1970.

O ponto alto do tratado é o capítulo dois, no qual Lukács distingue o romance (como forma abrangente capaz de refigurar a "totalidade dos objetos" de um período) do drama (que se concentra na "totalidade do movimento").

Em seu conjunto, o livro é uma aplicação, à esfera estética, da estratégia defendida por Lukács para deter o avanço do nazismo: a aliança da esquerda com os liberais.

Daí sua defesa do realismo burguês tradicional (Thomas Mann) contra as obras da esquerda radical (Brecht), de um lado, e da vanguarda (Döblin), de outro.

Somente nos anos 60 é que Lukács passaria a valorizar mais os escritos de Musil, Proust e Kafka.

Apesar dessas limitações, "O Romance Histórico" é uma obra fundamental para a compreensão do tema.

O ROMANCE HISTÓRICO

AUTOR György Lukács
EDITORA Boitempo
TRADUÇÃO Rubens Enderle
QUANTO R$ 63 (440 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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