Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Angelina Jolie estreia atrás das câmeras

Com filme sobre genocídio na Bósnia-Herzegóvina, a atriz recebe elogios da crítica e é indicada ao Globo de Ouro

"[Escrevi o roteiro] para desabafar frustrações com a comunidade internacional", revelou a atriz-diretora

VANESSA THORPE
DO “GUARDIAN”

O nome de Angelina Jolie é sinônimo de "sex appeal" há mais tempo que a maioria das estrelas de cinema, mas o status da atriz de 36 anos, premiada com o Oscar, de uma das mulheres mais irresistíveis de Hollywood está prestes a mudar.

Seu doloroso primeiro filme como diretora, "In the Land of Blood and Honey", vem sendo aclamado pela crítica, tanto que agora parece certo que a atriz terá futuro também atrás das câmeras.

O filme, que teve première em Nova York neste mês, já foi reconhecido com um prêmio Stanley Kramer por chamar a atenção para injustiças e questões sociais. Na semana passada, também recebeu indicação ao Globo de Ouro.

E, formando um contraste marcante com a recente investida na direção da também milionária Madonna, o filme de Jolie foi avaliado pela crítica como tentativa autêntica de informar e entreter.

"Nos primeiros minutos de projeção -um olhar brutal e sem rodeios sobre o genocídio e a limpeza étnica na Bósnia-Herzegóvina no início dos anos 1990-, fica claro que esta é uma obra séria, e não um simples projeto feito para destacar sua roteirista e diretora estreante", escreveu a revista "Hollywood Reporter".

Pelo fato de focar os anos brutais da guerra na ex-Iugoslávia, sem transigir, é pouco provável que o filme de Jolie faça sucesso junto ao grande público. Mas a visão ampla da diretora e seu compromisso com um projeto difícil já estão levando produtores a se perguntar qual pode ser o próximo passo da atriz.

Depois da première nos EUA, Jolie disse a jornalistas que, embora adore atuar, está feliz em fazer algo mais que isso: "Meu coração tem estado voltado à questões de política externa. É isso o que me interessa. Poder combinar esses interesses e debater assuntos internacionais deste modo, trabalhando na busca por soluções, me parece uma evolução interessante".

O sucesso da história, filmada em duas versões -uma falada em bósnio, uma em inglês- e rodada em apenas 42 dias, parece ter pegado Angelina Jolie de surpresa.

"FRUSTRAÇÕES"

Ela contou à revista "Marie Claire" que escreveu o roteiro em um mês, "para desabafar minhas frustrações com a comunidade internacional e questões de justiça. Simplesmente presumi que ninguém o veria ou leria".

Jolie decidiu lançar seu filme primeiramente em bósnio, com legendas em inglês. (o filme ainda não tem previsão de estreia no Brasil).

O projeto, no entanto, não tem sido fácil para Jolie.

Ela foi acusada de fazer mau uso de seu papel de embaixadora da boa vontade da Alta Comissão das Nações Unidas para os Refugiados, de plágio e de explorar a desgraça de milhares de vítimas de estupro na guerra que dilacerou a antiga Iugoslávia nos anos 1990.

Apesar de alguns sobreviventes das atrocidades cometidas em Sarajevo durante o conflito terem se manifestado em apoio ao filme depois de assistirem a sua pré-estreias, foram também lançados pedidos pela proibição de sua exibição.

Branislav Dukic, presidente da Associação de Detentos da República Sérvia da Bósnia (o território administrativo bósnio de maioria sérvia), disse a jornalistas que está "indignado com o fato de, mais uma vez, ser atribuído aos sérvios o papel de vilões principais", prometendo que ele e outros membros de sua organização fariam lobby para proibir o filme.

Um fato polêmico é que o filme trata do amor de uma muçulmana bósnia, Ajla (vivida por Zana Marjanovic), internada em um campo de prisioneiras vítimas de estupro, com um soldado sérvio, Danijel (Goran Kostic).

Em julho de 2010, quando imprensa e sobreviventes se reuniram para lembrar o 15º aniversário do massacre de 8.000 homens e meninos em Srbrenica, em julho de 1995, a notícia de que Angeline Jolie e seu companheiro, Brad Pitt, estavam no leste da Bósnia fazendo pesquisas para um filme "sobre os campos de vítimas de estupro" foi mal recebida.

O desentendimento foi reforçado por relatos inverídicos segundo os quais o roteiro de Jolie seria sobre uma mulher que se apaixona por seu estuprador.

Histórias sobre conflitos violentos sempre despertaram o interesse de Jolie, que acaba de retornar da Líbia e que representou o papel de Mariane Pearl, viúva do jornalista assassinado Daniel Pearl, em "O Preço da Coragem", de 2007.

Seu pai, o ator Jon Voigt, recebeu um Oscar por representar um paraplégico veterano da guerra do Vietnã em "Amargo Regresso", filme de 1978 dirigido por Hal Ashby -um dos primeiros a tratar do conflito.

OUTRAS DIREÇÕES

Jolie disse ao diário "USA Today" que, se tiver a oportunidade, quer voltar a dirigir.

"Se me permitirem, se eu for aceita, vou fazer de novo. Ainda sou muito tímida em relação a isso", disse ela. Sua mãe, Marcheline Bertrand, que morreu em 2007, foi atriz e produtora.

Recentemente, Jolie fez pouco caso da acusação de plágio feita a seu filme, dizendo que isso é algo que acontece "em quase todo filme".

A disputa disse respeito ao livro de 2007 "The Soul Shattering", de James Braddock, autor também conhecido como Josip Knezevic. Ele processou Jolie e os produtores, alegando que infringiram o copyright de seu livro.

Dino Mustafic, diretor de cinema e teatro bósnio, disse ao diário britânico "The Observer" que percebeu, a partir de conversas que teve com colegas que contribuíram para o filme, que "The Land of Blood and Honey" foi preparado com grande cuidado e com responsabilidade.

Ele diz que a verdade artística não precisa ser literal.

"A arte não é a vida, mas a forma emocional e o pensamento sobre um tema particular", afirma Mustafic.

E conclui: "Filmes de guerra não precisam envolver experiência pessoal do autor, mas requerem pesquisa séria, uma abordagem analítica e plena responsabilidade ética para evitar a manipulação das vítimas da guerra".

Tradução de CLARA ALLAIN

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.