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Concisão é a regra na criação das capas

Artistas afirmam que, na era digital, projetos gráficos têm que funcionar como ícones de aplicativos de celular

Até a primeira metade dos anos 1990, capas de CDs no Brasil eram simplesmente reduções das artes dos LPs

DE SÃO PAULO

"Uma vagina é a ideia mais óbvia, já que o tema do disco é sexo. Mas o Erasmo [Carlos] nunca fala de sexo-sexo, fala de sexo-com-amor. Por isso o coração, também uma escolha óbvia. As impressões digitais representam duas identidades que se encontram."

Essa é a descrição da embalagem do CD "Sexo" -primeira colocada na eleição das melhores capas nacionais de todos os tempos- por seu criador, Ricardo Leite.

Veterano no "métier" (estreou em 1983, com a banda Paralamas do Sucesso), Leite afirma que, atualmente, "os artistas têm de pensar nas capas como se elas fossem um ícone de aplicativo de celular". Concisão é a regra.

Autor de capas clássicas de LPs de Paulinho da Viola, Clara Nunes e Chico Buarque, entre outros, Elifas Andreato diz que o ofício de um capista tem algo de "alcoviteiro".

"A capa é a primeira coisa que a pessoa vê", diz. "O que fazemos é atrair o público para a grande obra musical que está ali para ser descoberta."

Andreato afirma que perdeu o interesse pelas capas quando o CD dominou o mercado, no início dos 1990. Passou a ser necessário trabalhar em um quarto do espaço.

Houve um período de adaptação entre a "morte" do LP e o fixação do CD, em que as capas deste eram simples reduções das daquele.

Segundo as contas de Gê Alves Pinto, autor da capa de "João, Voz e Violão", 4º lugar no nosso ranking, foi a partir de 1994 que as capas de CD começam a ser vistas como "uma nova embalagem".

"Ali, artistas como Gringo Cardia e Luiz Stein conseguiram espalhar pelo folheto do CD um projeto gráfico cuja sofisticação busca compensar a perda de espaço do LP", diz.

Cardia, que desenhou capas de artistas como Rita Lee, Marina Lima e Skank, diz que a morte do CD não acaba com o papel da imagem que resume o conceito do som.

"A música sempre vai ter visualidade. Se não tiver mais capa, terá uma pagina na web ou qualquer outra coisa. O público precisa associar uma imagem ao artista", diz

Para Giovanni Bianco, autor da capa do novo CD de Marisa Monte e de "Hard Candy" (2008), de Madonna, "o mais dramático é perceber que, agora, a capa precisa funcionar em 5 cm, como a vemos no pequeno display do nosso iPod". (MARCUS PRETO)

1. Sexo (2011) - Erasmo Carlos - projeto gráfico: Ricardo Leite

2. Sou (2011) - Marcelo Camelo - projeto gráfico: poema "Sol" de Rodrigo Linares

3. Um Labirinto em Cada Pé (2011) - Romulo Fróes - projeto gráfico: Tatiana Blass

4. João, Voz e Violão (2000) - João Gilberto - projeto gráfico: Gê Alves Pinto

5. Ava (2011) - Ava - capa e arte: Tunga, projeto gráfico: Priscila Lopes e Tunga

6. Fome de Tudo (2007) - Nação Zumbi - projeto gráfico: Valentina Trajano e Jorge du Peixe

7. Cê (2006) - Caetano Veloso - concepção de capa: Caetano Veloso

8. Nada Como um Dia Após o Outro Dia (2002) - Racionais MC's - direção de arte: Giuliano César, foto: Klaus Mitteldorf

9. Partimpim 2 (2009) - Adriana Calcanhotto - projeto gráfico: Luiz Henrique Sá sobre rabiscos de Partimpim

10. Roots (1996) - Sepultura - projeto gráfico: Michael R. Whelan, baseado na ilustração da nota de mil cruzeiros

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