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'Nova Prosa' investiga o universo literário

Lançamentos da coleção de literatura contemporânea da Editora 34 têm escritores e tradutor como protagonistas

Prestes a comemorar 20 anos, editora publica novas obras de Furio Lonza, Chico Lopes e Pedro Süssekind

MARCIO AQUILES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os três últimos lançamentos da Editora 34 apontam para um caminho que a literatura mundial vem seguindo com frequência no século 21: obras com personagens que são escritores ou que têm relação com a literatura.

"Crossroads", de Furio Lonza, acompanha quatro décadas na vida do protagonista, um escritor frustrado que trabalha como jornalista. "Há trechos autobiográficos, mas o resto é análise realista dos últimos 43 anos", afirma o ítalo-brasileiro Lonza.

As experiências de amadurecimento do narrador são alternadas com relatos sobre cada decênio vivido por meio de descrições que vão do relato da mobília e de trajes da época até a música ouvida e as drogas então usadas.

Assim como seu personagem, Lonza valoriza sobretudo o idealismo sessentista.

"As utopias dos anos 60 têm que continuar enquanto houver pessoas morrendo de fome, em estado de inanição. Essa luta está exposta na metáfora final, quando os castelos de areia são reconstruídos várias vezes", diz.

O grande destaque da obra, no entanto, são as personagens Ana e Helena, figuras de alta complexidade psicológica, por quem o narrador se apaixona, que irão definir a sua personalidade.

"Os homens são meio bobões. As personagens femininas são fortes e bem acabadas para que haja equilíbrio entre protagonista e antagonista", explica Lonza.

NOVELA PSICOLÓGICA

Em "O Estranho no Corredor", primeira novela de Chico Lopes, temos também um protagonista aspirante a escritor, assombrado pela aparição recorrente de um figura masculina misteriosa.

Como contraponto, no plano realista da história, aparecem personagens femininas, como a dona da pensão e a tia do protagonista, que tentam controlar suas paranoias.

"O protagonista busca redimir o masculino dentro dele e a novela constrói um enigma psicológico. Seu ponto de vista está contaminado, formando um jogo entre o delírio e a realidade em um recorte expressionista", diz Lopes.

O escritor diz que a função de sua literatura é promover um desacordo entre seus personagens e a história brasileira, com intuito de desconstruir a realidade opressora.

"A literatura tem que inquietar, sem medo de transgressão. Deve desmistificar psicologicamente o mundo de forma radical", avalia.

"Por isso, quis embaralhar os dados para que o leitor não soubesse o que é delírio ou realidade", completa.

Em "Triz", de Pedro Süssekind, o narrador é um tradutor do russo, ocupado com a tradução de um romance e com apostas em corridas de cavalos no hipódromo do Rio.

Há toques de metaliterariedade, sobretudo quando o narrador descreve passagens da tradução ou o autor toma a voz do personagem.

"Os dois planos narrativos fazem parte da memória do narrador, de modo que os eventos da 'vida real' do personagem e os do livro que ele traduz se entrelaçam e se combinam como recordações", afirma Süssekind.

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CROSSROADS

O ESTRANHO NO CORREDOR

TRIZ

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