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Dinheiro com rosto de Milú Villela está no centro de briga no Itaú Cultural

Artista protestou contra falta de cachê criando cédulas com a cara da acionista do banco; outros autores cobram pagamento

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Artistas que participaram da exposição "Caos e Efeito", encerrada há duas semanas no Itaú Cultural, estão pressionando a instituição para que pague cachês. Eles enviaram uma carta à direção do museu na semana passada cobrando explicações.

Embora esse pagamento não estivesse previsto quando a mostra foi planejada -só os curadores receberiam-, um grupo de artistas foi remunerado, desencadeando uma "revolta", nas palavras de Edson Barrus, dos que ficaram sem o pagamento.

No centro da briga está uma obra envolvendo o objeto da discussão -dinheiro.

Quando soube que não receberia por sua participação na mostra, o artista Lourival Cuquinha decidiu fazer uma bandeira da marca do Itaú usando notas de R$ 2 e R$ 20.

Mas, no lugar da efígie da República, imprimiu o rosto de Milú Villela, presidente do Itaú Cultural e uma das maiores acionistas do banco.

"Fiz as notas e as vendia multiplicando o valor de face pela proporção do lucro do Itaú no último semestre", diz Cuquinha à Folha. "Tem a ver com a ideia de dinheiro especulado em cima de arte dentro da instituição financeira."

Ele diz que pretendia expor a bandeira e as cédulas na mostra, mas foi pressionado a desistir da ideia para não prejudicar a negociação dos demais artistas que brigavam para receber seus cachês.

"Não permitiram que esse trabalho fosse exposto e pagaram para calar a boca do artista", diz Barrus, atribuindo a decisão de remunerar uma primeira leva de autores à condição de não expor o trabalho de Cuquinha. "Resolveram comprar o silêncio."

Ainda segundo Barrus, cópias de uma revista distribuída no dia da abertura da mostra, com um texto da curadora Clarissa Diniz em que detalhava o lucro do Itaú, foram confiscadas pela direção do centro cultural.

Frases escritas na parede do espaço expositivo que faziam menção à falta de cachês também teriam sido apagadas por funcionários.

"Apagaram porque acharam que fosse ofensivo. É o problema da instituição que banca a mostra e decide o que quer ter lá dentro", diz o artista Franz Manata. "O curador ganha, o iluminador ganha, todo mundo ganha, mas quem faz o show é o artista e ele paga para trabalhar."

OUTRO LADO

"É uma praxe o curador receber cachê e, nesse caso, o artista não receber", diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural. "Acordamos que não íamos pagar cachê a todos, mas depois decidimos pagar aos que fizeram performances e aos que participaram da montagem."

Saron afirmou também que não condicionou pagamentos à exposição ou não da obra de Lourival Cuquinha e admitiu ter pedido a correção de dados no texto de Clarissa Diniz, negando que tenham confiscado cópias da revista.

"Em nenhum momento a gente pediu para que uma obra fosse exposta ou deixasse de ser exposta", diz Saron. "Isso não é verdade, essa é uma decisão do curador."

Sobre frases que foram apagadas da mostra, ele diz "não ter nenhuma notícia" do que relatam os artistas.

Ele acrescentou também ter firmado um compromisso com os 82 artistas da mostra, dizendo que todos receberão seus cachês -cerca de R$ 1.000- já no próximo mês.

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