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Crítica Ação

'Imortais' é samba do crioulo doido da Antiguidade, cheio de músculos e ira

CÁSSIO STARLING CARLOS
crítico da folha

"A alma de todo homem é imortal, mas a alma dos honrados é imortal e divina." A citação de Sócrates posta no pórtico do épico "Imortais" pretende anunciar para o espectador a entrada num mundo coberto com a aura de solenidade e altos valores.

"Dos mesmos produtores de '300'", informa o cartaz. É o que basta para saber que o ingresso dará direito a um samba do crioulo doido e que quem busca informações sobre a Antiguidade deve preferir os livros respeitáveis.

"Imortais" oferece espetáculo, paixões e heroísmo em doses cavalares, mas sua visão da mitologia reduz as ressonâncias poéticas e simbólicas do Olimpo ao exibicionismo de força muscular e ao amontoado de efeitos visuais.

Depois de reinventar com terabytes os combates entre os guerreiros de Esparta e os persas, a estética digital sobe ao Olimpo para recompor o confronto entre as forças do bem, lideradas por Zeus e seus filhos, e as do mal, conduzidas pelo vingativo Hipérion e uma gangue de Titãs.

Teseu encarna o lado humano, guerreiro e musculoso, que a horas tantas enfrenta e vence o Minotauro no labirinto e pode descansar nos braços de uma bela ninfa.

Enquanto isso, Mickey Rourke, de novo vilão, insere com seu aspecto distorcido o pouco de paródia que sugere como "Imortais" seria um divertido filme de herói se não se levasse a sério.

A força imaginária dessas histórias constituiu o DNA cultural do Ocidente e move há décadas a indústria de HQs e de games. Mas essa tradição que mistura fantasia e valores morais acaba soterrada em "Imortais" por uma declamação de lemas.

O filme integra a retomada de um gênero que os americanos chamam "sword-and-sandal" (espada-e-sandália) e a que os europeus deram o nome de "peplum" (de "peplos", termo grego que designa as saias dos guerreiros).

O "revival" do gênero "mezzo mitológico-mezzo calabresa" neste século teve início com "Gladiador" e mantém-se regular, apesar dos fracos desempenhos das refilmagens de "Fúria de Titãs" e "Conan, o Bárbaro".

"300" ainda oferecia possibilidades de subleitura aos que quiseram ver ali referências a temas contemporâneos, como o "choque de civilizações" entre o Ocidente e o Oriente no pós-11 de Setembro. "Imortais" resume-se a evocar o poder e a ira, decorando seu discurso com um espetáculo desenhado para atordoar os sentidos.

Ao fim, o espectador encontra a catarse. Mas ela não vem da descarga emocional promovida pelo drama. Chega, sim, através da porta que o funcionário do multiplex abre no fundo da caverna.

IMORTAIS

DIREÇÃO Tarsem Singh

PRODUÇÃO EUA, 2011

ONDE Eldorado Cinemark, Bristol e circuito

CLASSIFICAÇÃO 16 anos

AVALIAÇÃO regular

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