Legado de Eve Arnold vai além de fotos de Marilyn

Os 99 anos de vida da fotógrafa norte-americana Eve Arnold tiveram tudo o que pode querer um fotógrafo.

Viajou o mundo, conheceu personalidades, publicou livros. Foi a primeira fotógrafa a fazer parte da lendária agência Magnum, teve uma muito bem-sucedida carreira de jornalista e fotografou Marilyn Monroe como ninguém.

Durante os dez anos em que fotografou a atriz, produziu imagens icônicas de Marilyn, ao mesmo tempo glamurosa e frágil. A aproximação naturalista de Arnold era uma novidade para a época, acostumada às poses de estúdio comuns em Hollywood.

"Marilyn intuitivamente sabia mais sobre fotografia do que qualquer um. O que se vê é o que ela quer mostrar, e ela sempre mostrava mais do que qualquer outro mostraria", disse ela certa vez.

O eterno embate entre retratista e retratado é latente em suas fotos. A aproximação, a negociação, o consentimento, a pose e o medo parecem saltar de suas imagens.

Arnold era sempre consciente do poder se de sua câmera tanto fotografando estrelas de cinema quanto treinadores de cavalo na Mongólia. As fotos de Marilyn (e de Marlene Dietrich, Joan Crawford, Jacqueline Kennedy, Malcolm X e outros) eclipsaram o resto de sua obra.

"Meu Deus, vou ser conhecida apenas por isso? Fiz outras coisas. Fiz importantes reportagens políticas no Afeganistão, Rússia e China", chegou a lamentar.

De fato, foi uma das grandes fotógrafas da época de ouro de revistas como "Life", "Paris Match" e "Harper's Bazaar". Uma olhada nos livros que deixa e no seu sensacional arquivo na Magnum dão conta de corrigir a impressão de fotógrafa de celebridades.

Fica a imagem de uma grande jornalista cujo erro talvez tenha sido fotografar Marilyn Monroe bem demais.