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Crítica Drama Diretor iraniano faz o complexo parecer simples em filme-espelho RICARDO CALILCRÍTICO DA FOLHA Diante de uma unanimidade como a que se ergueu em torno de "A Separação", a tendência natural -não muito saudável, mas quase instintiva- do crítico é desconfiar. Ver com atenção redobrada, vasculhar pontos fracos, buscar argumentos para o dissenso. Mas "A Separação" sobrevive a qualquer escrutínio, vence qualquer resistência. Se o critério para avaliar a qualidade de uma obra for a variedade de interpretações que ela comporta, então não resta muita dúvida: o filme iraniano é uma obra-prima. Na primeira cena, um casal burguês discute civilizadamente sua separação e a guarda da filha diante de um oficial de Justiça. E parece que vamos ver um drama conjugal ocidentalizado, à la "Kramer vs. Kramer" (1979). Pouco depois, o marido contrata uma mulher grávida para cuidar de seu pai com Alzheimer e, quando o doente urina na calça, ela telefona a seu guia religioso para saber se é pecado limpar um homem nessas circunstâncias. Então, fica claro que "A Separação" é universal, mas também muito específico, muito iraniano. Na sequência, o marido briga com a mulher contratada, ela perde o filho e processa o patrão. E "A Separação" se torna um kafkiano filme de tribunal, depois um suspense quase hitchcockiano, um estudo sobre a luta de classes, outro sobre o conflito entre razão e emoção e assim por diante. A maestria do diretor Asghar Farhadi está em tornar essas transições quase imperceptíveis, fazer o complexo parecer simples, não chamar a atenção para o próprio talento -a ponto de sentirmos que estamos não diante de uma obra-prima, mas de um extrato da vida. Em última instância, o que o cineasta oferece ao espectador é menos um filme do que um espelho. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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