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Crítica Drama

"L' Apollonide" tece retrato íntimo do fim de uma era

PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ao longo de "L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância", o espectador pode ter a estranha sensação de ver uma peça de teatro contemporânea, em que o público é convidado a acompanhar os personagens de perto.

Mas essa "teatralidade" não torna o filme de Bertrand Bonello menos cinematográfico -muito pelo contrário.

Apesar de trazer uma lógica muito própria no desenvolvimento de sua narrativa, "L'Apollonide" não parece obedecer a um roteiro.

As situações que desfilam diante da câmera, organizadas em uma sofisticada estrutura temporal, estão mais próximas do resultado de um profundo trabalho de dramaturgia contemporânea, embebido em pesquisa e no espírito de uma época, do que de um texto convencional.

Bonello acompanha a rotina de mulheres num prostíbulo parisiense na passagem do século 19 para o século 20.

A câmera praticamente não sai de dentro da casa, mas o confinamento é uma opção estratégica.

Se, por um lado, transmite de forma clara a ideia de prisão que um prostíbulo pode representar, por outro gera uma intimidade que ajuda a libertar os personagens dos clichês que costumam aprisioná-los no cinema.

A sensação "teatral" é fruto de uma cumplicidade entre elenco e câmera rara de se encontrar hoje em dia, mesmo nos filmes mais autorais.

Bonello, porém, não toma essa proximidade como dogma. Não se esquece de que a contextualização do personagem no espaço em que habita, ainda que esse espaço seja limitado, é tão importante quanto o detalhe e a busca do cinema "sensorial".

O resultado é um filme que não glamouriza nem demoniza a prostituição e que guarda uma poderosa capacidade de espelhar o espírito do fim de uma era (um aspecto claramente viscontiano).

Riquíssimo em estética e em ideias, é também uma obra radicalmente feminista -ainda que se mantenha longe da militância aborrecida.

L'APOLLONIDE - OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA

DIREÇÃO Bertrand Bonello

PRODUÇÃO França, 2011

COM Hafsia Herzi, Jasmina Trinca

ONDE no Reserva Cultural

CLASSIFICAÇÃO não informada

AVALIAÇÃO ótimo

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