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Crítica memórias "Viagem Solitária" extrai lições humanas da mudança de sexo CLÁUDIO PORTELLAESPECIAL PARA A FOLHA Após quase três décadas da publicação de seu relato "Erro de Pessoa", o autor conta a história de repaginação do seu gênero feminino. Antes Joana, agora João. No novo livro, "Viagem Solitária", o hoje João W. Nery, não só revisita (e relê) seu passado (também após as cirurgias de mudança de sexo), como celebra as conquistas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Nesse sentido, o penúltimo capítulo do livro, "O Homem Grávido", é o mais interessante. É onde enumera, em tom de bate-papo com os amigos, algumas conquistas. Tais como a França, em 2010, e a Suécia, em 2011, terem abolido o transexualismo do código de doenças mentais; a criação em 2009, pelo então presidente Lula, da Coordenação Geral de Promoção dos Direitos LGBT; o reconhecimento dos direitos civis dos homoeróticos. No capítulo fala-se também do "homem grávido", as pessoas que acidentalmente nasceram escravas num corpo de mulher e que, após as cirurgias de mudança de sexo, mas sem retirar o útero e os ovários, resolvem engravidar. E segue elencando as mais variadas possibilidades de identidades de gênero, terminando com João se reconhecendo um homem dócil e afetivo. João W. Nery fez a primeira cirurgia para moldar seu corpo ao padrão masculino em 1977 (os militares ainda mandavam no Brasil), coincidentemente no dia em que completava 27 anos de idade. A cirurgia era ilegal. Tirou os seios, os ovários, o útero e fez um novo canal uretral para que pudesse urinar em pé. O médico que o operou já moldara, seis anos antes, um corpo de mulher em um de homem. É provável que João seja o primeiro transexual masculino operado no país, pelo menos o primeiro com registro. Mas talvez não seja tudo isso o mais importante do livro. Por mais que em alguns momentos as lições contidas na obra pareçam retóricas, não são. Na verdade, são grandes lições humanas: o amor e a aceitação plena dos pais; a amizade e o apoio moral de Darcy Ribeiro (seu mentor intelectual); a generosidade de Antônio Houaiss ajudando-o a publicar o primeiro livro; o amor de sua companheira; a amizade do amigo cego; o amor do filho (não biológico) etc. Trata-se de um livro que é sempre muito bem-vindo. Merecia uma melhor edição. -
VIAGEM SOLITÁRIA |
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