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Americano deixa Califórnia para ser funkeiro em favela

IURI DE CASTRO TÔRRES
DE SÃO PAULO

"Sou a ovelha preta [sic] da família", vai logo avisando Alex Cutler, 30, em entrevista num hotel de São Paulo.

Em português fluente, mas cheio de sotaque, o norte-americano formado em turismo (com MBA em Barcelona) lembra que poderia ter tido uma vida "fácil", mas preferiu seguir seu sonho: ser funkeiro no Rio.

Adotou o nome de guerra Don Blanquito e se mudou para a Cidade Maravilhosa em 2008, para morar na favela Tabajaras, em Copacabana. "Virei um 'amerioca'", brinca. "Sou americano com alma carioca."

O projeto de vida nos trópicos surgiu em 2004, quando ele assistiu a "Cidade de Deus". "Aquilo é muito louco. Nunca tinha visto essas coisas de facção, gangues."

Criado em uma família judia em Los Angeles, ele não se animava com a perspectiva de circular de pasta e gravata por aí. Deu tchau para o pai médico e a mãe artista e foi ser MC.

"Demorou muito, mas eles sabem que estou feliz, indo atrás do meu sonho", conta. "E na vida a gente tem de fazer isso, né?"

Por aqui, deu aulas de inglês para brasileiros e de português para gringos. Foi também guia turístico e frequentador assíduo de bailes funk, da Cidade de Deus à Rocinha, onde viu um tiroteio entre traficantes e policiais.

Conheceu uma "carioca da gema, baixinha e brava", casou-se e comprou uma casa na favela. E arrumou um emprego em uma multinacional.

"Tudo no Rio me inspira, principalmente as mulheres", diz. "São lindas: têm bunda de africana, olhos de alemã e pele de espanhola."

"Rio de Janeiro, a melhor cidade/ Bem humilde com malandragem/ Cachaça, biquíni e sacanagem", canta.

E dá-lhe música de duplo sentido, em exaltação às belezas da cidade. "Tudo temperado com sotaque gringo", ele descreve.

Blanquito leva seus CDs (gravados em casa) para cima e para baixo, "divulgando na maior humildade".

"Todo mundo me aceitou bem na comunidade, viram que não cheguei com marra", afirma. "Estou conquistando meu espaço aos poucos."

Blanquito pensa em voltar para os EUA, "depois da Olimpíada do Rio, para criar os filhos". Por enquanto, quer curtir os cariocas. "Esse povo é tudo junto, uma verdadeira feijoada da alma."

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