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Crítica rock

Leonard Cohen faz reflexão sobre morte em novo disco

CRÍTICO DA FOLHA

Leonard Cohen só queria passar seus últimos anos em paz, meditando em um templo budista. Mas sua empresária tinha outros planos. Aproveitando o estado zen de Cohen, a moça desviou grande parte de suas economias e o deixou perto da falência.

A bancarrota obrigou Cohen, 77, a retomar uma carreira que já havia praticamente abandonado. Sorte nossa.

Nos últimos anos, fez turnês pelo mundo todo e agora chega com seu primeiro disco de músicas inéditas em oito anos, "Old Ideas", que sai nos EUA e na Europa dia 31.

Cohen é um poeta que virou músico. Suas letras -elaboradas, inspiradas e com sabedoria e senso de drama notáveis- sempre falaram de religião, espiritualidade, sexo e paixões violentas.

Em "Old Ideas", Cohen traz mais um elemento para a linha de frente: a morte. O disco parece uma reflexão madura sobre um homem e seus últimos suspiros.

Em "Darkness", um blues lúgubre, Cohen canta: "Eu não tenho futuro/ Sei que meus dias são poucos (...) achei que o passado me bastaria/ Mas a escuridão o envolveu também".

"Cantar" é um exagero. Cada vez mais, Cohen parece declamar suas letras. Ele nunca foi um cantor de grande alcance vocal, mas compensava com um estilo próprio, grave e meio falado. Influenciou de Iggy Pop a Nick Cave.

Em "Old Ideas", a mitológica voz está mais baixa e sussurrada. Isso demanda ainda mais atenção e exige um silêncio respeitoso do ouvinte.

Coisa rara, especialmente numa época em que discos são mixados com volume exagerado, como único recurso para atrair a atenção de pessoas acostumadas a fones de ouvido e videogames.

"Old Ideas" tem som minimalista, com arranjos simples e esparsos, em que cada instrumento parece estar isolado do outro. O clima é de cabaré enfumaçado, onde um "crooner" canta músicas tristes para um público idem.

Em "Going Home", Cohen fala de "Leonard" na terceira pessoa: "Eu amo conversar com Leonard/ Ele é um safado de terno/ Mas ele sempre diz o que mando (...) Ele simplesmente não tem a liberdade de recusar".

Será Cohen levando um papo com sua própria musa inspiradora? Com seu espírito? De toda forma, não é qualquer um que tem a moral de abrir um disco com uma divagação metafísica. Força para ele. (ANDRÉ BARCINSKI)

OLD IDEAS
ARTISTA Leonard Cohen
GRAVADORA Sony
QUANTO US$ 12 (importado)
AVALIAÇÃO ótimo

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