Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Boca do Lixo ganha mostra em Roterdã

Filmes com forte apelo sexual produzidos no Brasil entre os anos 60 e 80 chegam ao festival de cinema europeu

Curador Gabe Klinger selecionou desde clássicos de Sganzerla e Reichenbach até filmes raros e desconhecidos

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Fiel à sua tradição de audácia, o Festival de Cinema de Roterdã abriu ontem, na série "Sinais", uma mostra só com longas-metragens paulistas produzidos na chamada Boca do Lixo entre os anos 1960 e 1980.

A Boca, alguns quarteirões entre as ruas do Triumpho, Vitória e Gusmões, em Santa Ifigênia, tornou-se o centro do cinema paulista depois da falência dos grandes estúdios (a Vera Cruz era o maior).

A proximidade das ferrovias foi o principal motivo dessa concentração, mas o nome -Boca do Lixo- foi herdado da zona de prostituição com a qual convivia.

Para chegar à seleção dos 15 longas que serão mostrados, o curador Gabe Klinger, visionou mais de 200 títulos e concluiu que o mais significativo era a referência frequente à sexualidade.

"Quem sabe isso é por que as questões em torno da identidade sexual, a prostituição, a repressão religiosa e a censura foram muito fortes durante muito tempo no Brasil -aliás, continuam sendo".

A seleção é heterogênea, indo desde filmes clássicos como "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, "A Margem", de Ozualdo Candeias, "Liliam M", de Carlos Reichenbach, "O Despertar da Besta", de José Mojica Marins, até filmes de quando o sexo explícito era dominante, em meados dos anos 1980.

Desses, aparecem "Senta no Meu que Eu Entro na Sua", de Ody Fraga, "Fuk Fuk à Brasileira", de Jean Garret, e "Oh, Rebuceteio", de Claudio Cunha. "O critério de seleção foi a variedade de temas, gêneros e épocas. Filmes representativos e ao mesmo tempo bons", diz Klinger.

Há exemplares preciosos do "cinema marginal" até hoje desconhecidos, como "O Pornógrafo", de João Callegaro, "Orgia ou o Homem que Deu Cria", de João Silvério Trevisan, "O Vampiro da Cinemateca" e "O Insigne Ficante", de Jairo Ferreira.

Ali se encontram cineastas de prestígio, como Walter Hugo Khouri (de "Um Convite ao Prazer"), mas a parte sem dúvida mais provocativa dessa seleção pode vir do policial "Snuff -Vítimas do Prazer", de Claudio Cunha, que esteve perdido durante anos.

Ou ainda de "O Império do Desejo", pouco conhecido, mas também um dos melhores trabalhos de Reichenbach -que também estava fora de circulação havia décadas.

A Boca teve muitos outros assuntos: cangaço, sertanejo, faroeste. "Mas a maior parte está impregnada de sexualidade. Por isso me pareceu uma oportunidade de fazer uma coisa atraente para público internacional. O sexo pareceu a melhor ponte para programar um monte de filmes que queríamos ver na tela grande em 35 mm."

A resposta, público e crítica deste festival iconoclasta começam a dar agora.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.