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Crítica história

Archie Brown revê trajetória comunista em detalhes, mas despreza a economia

O esforço para um equilíbrio não é grande e, às vezes, o tom faz lembrar um pouco a retórica norte-americana na Guerra Fria

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

Como os comunistas chegaram ao poder. Como se mantiveram no controle por tanto tempo e em tantos países. Por que houve o colapso do sistema.

Com essas linhas mestras, Archie Brown, 73, professor emérito de política da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha), escreve "Ascensão e Queda do Comunismo". Cientista político e historiador, ele parte das origens da Revolução Russa e chega à China de hoje.

Passa pelas guerras mundiais, pelo stalinismo, pelas revoltas na Iugoslávia, na Tchecoslováquia e na Polônia. Trata das revoluções de Mao e Fidel.

Para Brown, a conquista bolchevique em 1917 foi principalmente "uma vitória de ideias": o "capitalismo estava condenado"; a burguesia seria suplantada pelo proletariado; o socialismo construiria uma sociedade sem classes.

Depois, ele mostra como esse pensamento se espraiou pelo mundo, ganhando adesões após a 2ª Guerra Mundial. "A União Soviética não apenas sofreu as maiores perdas como também foi a que mais contribuiu para a derrota dos nazistas", assinala.

O número de Estados ditos comunistas passou de dois para 12 entre o fim da guerra e a morte de Stálin, em 1953.

No auge da ideologia, no final dos anos 1970, eles eram 16. Hoje, o autor lista cinco: China, Cuba, Coreia do Norte, Vietnã e Laos.

CANO DA ARMA

Lembrando a frase de Mao -"O poder vem do cano da arma"-, Brown credita a expansão do comunismo pelo Leste Europeu a esse desempenho excepcional na guerra. Fala também que o desemprego e as "falhas do capitalismo" levaram muitos a acreditar que o socialismo era a saída para "reduzir a desigualdade gerada pelas relações de mercado".

Mas o enfoque de Brown não é a economia nem a política de uma maneira ampla. Ele se fixa na narrativa de fatos e nas disputas dentro dos governos e dos partidos, focando em personagens.

É bem recheado de informações, o que vale a leitura. No texto, o esforço para um equilíbrio não é grande e, às vezes, o tom faz lembrar um pouco a retórica norte-americana na Guerra Fria.

O que talvez se explique pelo fato de ele ter sido consultor informal da conservadora Margaret Thatcher.

Brown não esconde sua admiração por Mikhail Gorbatchov, que considera "o precursor crucial e guardião da liberalização e democratização do Estado soviético", embora também faça críticas pontuais à sua atuação.

Da leitura se sai com poucas informações sobre como era a vida real nesses países, excetuando conhecidas histórias envolvendo censura, repressão e controle político. O autor despreza os dados econômicos.

Para ele, não está na economia a explicação principal para o desmoronamento espetacular do sistema há 20 anos, com o fim da URSS.

Brown prefere analisar questões como o fluxo de ideias e a fossilização do partido comunista soviético. O livro não aborda o que aconteceu nesses países no pós-comunismo.

Numa nota de rodapé, anota que a expectativa de vida de um homem na URSS, que era de 66 anos em 1964, caiu para 57,6 anos em 1994 e depois voltou a crescer.

ASCENSÃO E QUEDA DO COMUNISMO
AUTOR Archie Brown
EDITORA Record
TRADUÇÃO Bruno Casotti
QUANTO R$ 89,90 (854 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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