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Crítica culinária Volume sobre a história dos legumes não rende bom caldo VANESSA BARBARACOLUNISTA DA FOLHA "O legume mais modesto contém em si a aventura do mundo", diz o filósofo Michel Onfray no prefácio de "A Fabulosa História dos Legumes". Nele, a escritora francesa Évelyne Bloch-Dano traça uma biografia histórica e sentimental dos vegetais, detendo-se em dez deles. O livro partiu de aulas ministradas na Universidade Popular do Gosto, na França, onde ela pôde dar a palavra a uma alcachofra, conferir voz a um tomate e dotar de verbo o tupinambor (tubérculo similar à batata). A importância do tema é óbvia. Diz ela que "os legumes estão na aurora da humanidade, constituem o grau elementar da organização social, a passagem do cru ao cozido, da natureza à cultura: os seres humanos domesticaram os legumes como domesticaram os animais". Um dos capítulos fala do tupinambor, "aquela coisa esquisita, disforme, violácea e rugosa" que por muito tempo não teve nome e nem origem precisa. É considerado o pior dos legumes. Era consumido na Quaresma, a título de penitência, e suspeitava-se que pudesse causar lepra. "São raízes aguadas, insípidas, nocivas à saúde e produzem muitos gases", afirmou-se em 1771. Como se já não bastasse, logo surgiu a batata, e foi o fim para o tupinambor. Hortaliça mais querida é a couve, verdura versátil e de domesticação arcaica. Para Catão, o Velho, ela "cura a melancolia, dá um fim em tudo, cura tudo". Para Bloch-Dano, falar de legumes é partir em busca de territórios e culturas. Ela cita o comentário de Marcel Proust (1871-1922), sobre a expressão "estúpido como uma couve" - acaso seriam as couves mais estúpidas do que outras coisas? (Infelizmente para nós, brasileiros, não há qualquer menção ao termo "zé das couves".) Dentre os legumes citados, tupinambor e pastinaca sofreram "bullying" histórico. O mesmo não se pode dizer da ervilha, cuja "existência selvagem se perde na noite dos tempos". A impaciência de comê-las, o prazer de tê-las comido e a alegria de comer mais eram as únicas preocupações da corte no século 17. "É uma moda, é um furor." O livro é permeado de receitas, poemas e trechos literários. Há reproduções de pinturas relacionando a popularidade de um vegetal às naturezas-mortas, ou debatendo a mudança de coloração da cenoura a partir dos temas da pintura flamenga. Ainda assim, o resultado é um guisado confuso e sem substância que não chega a constituir um bom caldo.
A FABULOSA HISTÓRIA DOS LEGUMES |
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