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Mônica Bergamo

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'NUNCA FUI CAFONA'

Sidney Magal volta ao teatro em 'Xanadu', diz que letras dos Beatles são 'baboseira' e que não fez 'nada pior' que o hit 'Ai Se Eu Te Pego'

Foto Tomás Rangel/Folhapress
Sidney Magal em teatro no Rio
Sidney Magal em teatro no Rio

O ritual que o teatro exige de um ator, como ter que chegar horas antes da peça, é algo que incomoda Sidney Magalhães, 59, o Magal. Para o cantor, é "muito mais fácil" fazer show. "No teatro tem que ter doutrina, disciplina, tudo que não tenho. Sou geminiano, odeio isso."

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A bronca com a rotina das coxias não o impediu de aceitar o convite para ser um dos protagonistas de "Xanadu", musical com texto de Artur Xexéo e direção de Miguel Falabella. Na versão brasileira que estreou há 15 dias no Rio, ele é Danny McGuire, papel de Gene Kelly no cinema.

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Sentado na plateia do teatro Oi Casa Grande antes da sessão de estreia para convidados, conta que aceitou na hora o convite de Falabella.

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Está de jeans, camisa amarela com o desenho de uma arara nas costas da grife Tommy Bahama, chapéu panamá, bolsa estilo carteiro Louis Vuitton -"a patroa que me deu"- e tênis preto Calvin Klein. E anéis de ouro em cada dedo mínimo das mãos.

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"Eu não corro atrás de coisas para fazer. O artista, quando tem um nome e as pessoas sabem de sua capacidade, seja para fazer propaganda, teatro etc., os convites surgem", diz o dono do hit "Sandra Rosa Madalena" à repórter Lígia Mesquita.

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Seu único pedido para a produção do espetáculo foi: "Não me botem em cima de patins [quase todos os personagens usam o acessório]. Ainda mais nessa idade e com esse pesinho que eu tô". Há alguns anos, ultrapassou os habituais 94 kg. "E virei FM. Falo que 104.3, 105.7 é rádio FM, não é mais peso [risos]."

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O carioca nascido na Gávea e criado no Jardim Botânico estreou em musicais com "Charity, Meu Amor" (1993), de Marília Pêra. "Ela foi minha maior incentivadora", diz. "Magal tem um vozeirão, uma personalidade. É tão ator quanto qualquer outro em cena", afirma Marília.

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"Por causa da minha fama de brega nos anos 70, fiquei com medo de começar a fazer teatro. Como o público é mais elitizado, eu temia sofrer o mesmo tipo de preconceito. Mas quando a Barbara Heliodora [crítica teatral] elogiou minha atuação, eu disse: P..., vou levar essa coisa de ator adiante."

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E levou. Foi convidado por Bibi Ferreira a interpretar Roque Santeiro no espetáculo de mesmo nome, em 96. Também fez novelas e o filme "O Caminho das Nuvens" (2003), de Vicente Amorim.

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A música, ele nunca abandonou. Conta que seu último estouro foi em 1990, quando gravou "Me Chama que Eu Vou", tema de abertura da novela "Rainha da Sucata". "De lá pra cá não aconteceu nada parecido. Mas comecei a ser assimilado por um outro tipo de público. Hoje, faço muitas apresentações para empresas, formaturas e casamentos." São de seis a oito shows por mês. Ele não revela o cachê.

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Depois do Carnaval, lançará um CD e um DVD. "Terá um 'pot-pourri' com meus maiores sucessos, senão ninguém compra." E afirma que "não tem nenhum problema" em viver dos hits do passado.

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Magal diz que foi muito criticado nos anos 70. "Era um preconceito social. Eu era o cantor da empregada, do operário de obra,do aluno de escola pública." E afirma que as rádios, naquela época, no Rio, não tocavam MPB e os jornais não falavam dos artistas brasileiros. "Isso me incomodava. Música é música. A maioria das letras dos Beatles são babacas, superbobas. 'She Loves You' e 'Help' são uma baboseira e foram o maior fenômeno."

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Magali, sua mulher há 33 anos e empresária, interrompe a conversa para perguntar se não está na hora de Magal passar o som no palco. Ele segue para o camarim, que divide com Thiago Fragoso, para colocar o microfone. Pede para o fotógrafo não fazer fotos suas sem camisa. "Não tem mais tanquinho. Agora é lavadora de 13 kg."

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Ele conta que "claro que tenho ouvido" o hit "Ai Se Eu Te Pego", do sertanejo Michel Teló. "Quando vejo a letra da música, penso que eu não consegui fazer nada pior!"

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E diz que seu repertório "também tem música ruim": "Se Te Agarro com Outro Te Mato". "É engraçada, mas é bem cafoninha. Mas agora, depois de banda Calypso e de um monte de coisa, eu digo: Gente, me perdoem, nunca fui cafona! Eu tava nos anos 70, não tava em 2012 [gargalhada]!" Hoje, segundo ele, o Brasil assumiu que é brega.

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Primo em segundo grau de Vinicius de Moraes, diz que nunca quis gravar nada do parente, nem de seu "ídolo", Ivan Lins. "Sempre tive muita consciência do que eu representava e nunca me cobrei mais do que isso. Um dia pode ser que, por preciosismo, grave um disco com grandes compositores. Mas aí não vou mais estar rebolando alucinadamente [gargalhada]."

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Enquanto se maquia passando pó no rosto para tirar o brilho e lápis preto no olho, diz que até hoje lhe perguntam sobre sua sexualidade.

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"Uma vez falei que todo ser humano é bissexual. E acho isso até hoje. Acredito que sexo é uma coisa que você sente. De repente, você olha pra pessoa, a pessoa mexe com você, você vai olhar pro seu pinto e dizer: Ih, mas é homem, não devo?" E afirma: "Sempre me perguntam se já transei com homem. E respondo que me faltou oportunidade, porque conheci mulheres maravilhosas. Hoje não acho que vale mais a pena [experimentar]".

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Por causa de "Xanadu", Magal está hospedado em um hotel de Ipanema. Há 13 anos, trocou a casa em um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio, por Lauro de Freitas, na Bahia. "Fiquei com medo da violência. Senti que meus filhos teriam uma adolescência tumultuada aqui", diz o pai de Gabriella, 30, Nathalia, 26, e Rodrigo, 22.

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Hoje, ele tem imóveis na Praia do Forte e em Itaparica, na Bahia, e um apartamento em Miami. "Lá é o Rio de Janeiro que deu certo, com muita educação de um povo."

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Mas, antes de conquistar uma situação financeira estável, diz que teve "fases negativas" na carreira. "De não faturar grana e perguntar: e agora? Tô apertado, não sei o que vou fazer. Mas vinha uma maré boa e mudava tudo. Nem sei se eu merecia."

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Nas fases ruins, afirma nunca ter feito trabalhos que o ridicularizassem. "Sei que minha figura é divertida, que os anos 70 foram considerados cafonas, mas isso pode ser aproveitado com respeito. No momento em que eu mesmo começar a me ridicularizar, que eu acho que é o defeito de muito artista da minha época, vou acabar perdendo espaço e ficando esquecido definitivamente."

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"Hoje não coloco uma bota com salto de 9 cm como eu usava e tampouco uma calça de cintura alta, com uma camisa de mangas bufantes e peito de fora, e vou dar uma de cigano 'latin lover' com quase 60 anos. O mínimo que posso ter é respeito pela minha imagem e história."

"No momento em que eu começar a me ridicularizar, que é o defeito de muito artista da minha época, vou acabar perdendo espaço e ficando esquecido definitivamente"

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