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Gestão da Abrafin gera guerra entre 'indies'

Grupo de 14 ex-filiados fala em excesso de politicagem e abandona Associação Brasileira de Festivais Independentes

Para a entidade, dissidentes como Abril Pro Rock e Goiânia Noise são "classistas" e "centralizadores"

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

Em dezembro, festivais como Abril Pro Rock e Goiânia Noise gritaram algo parecido com "independência daquela independência ou morte".

Nesse mês, 14 filiados debandaram da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes). A entidade, que hoje reúne cerca de 70 eventos, surgiu em 2005 com a proposta de proteger o circuito musical indie no Brasil.

Sete anos depois, os desgarrados acusam-na de se envolver demais com politicagem e de virar as costas para o que realmente importa: a música.

Em carta aberta, 13 dos festivais que pularam fora criticavam a Abrafin por enxergar "os recursos públicos como um fim, e não como um meio".

A cizânia ganha outra narrativa com Talles Lopes, atual presidente da Abrafin. O incômodo teria vindo de uma ala contrária à "descentralização do processo". Em outras palavras: com mais peso na praça, os veteranos nem sempre estariam a fim de acolher recém-chegados.

Para o cofundador e ex-vice-presidente Pablo Capilé, os separatistas mantêm posição "classista", mais impermeável ao manancial de festivais que pipocam pelo país.

Talles e Pablo são do Fora do Eixo. Concebido no mesmo ano que a Abrafin, o coletivo defende "redes de cultura livre" por todo o Brasil.

Que são engajados, disso pouco se duvida. O problema é terem imposto uma "ingerência política" dentro da entidade, diz Jomardo Jomas, criador do Mada, festival de Natal (RN). "Incharam a administração. Quem tinha voz era o pessoal deles."

Para Paulo André, do Abril Pro Rock (PE), Fora do Eixo deveria ser uma coisa; Abrafin, outra. "As emissões da galera eram políticas, e a gente está nessa pela música."

Ele critica o descarte de uma regra no estatuto da associação -antes, para virar membro, um festival precisava ter pelo menos três anos de experiência. Isso afugentava os "aventureiros", diz.

"O grande mal é que não quiseram manter diálogo", continua Paulo André.

Também há melindre no outro lado. Diz o presidente Talles: "Eles falavam que saíram os grandes, ficaram os pequenos. Que saíram os que não utilizam verba pública e ficaram os que fazem politicagem, usam verba pública." Ele nega que os recursos do governo sejam aproveitados indiscriminadamente.

Os dissidentes também se lançam contra a criação de braços regionais da associação. "Inflar com outros tantos festivais de trajetória ainda incipiente ou mesmo duvidosa é abrir brechas para ainda maior fragilização."

Talles vê a questão com outros olhos. "Já não fazia sentido manter uma estrutura tão engessada e fechada."

CADA UM DE UM LADO

Como num divórcio, resta ora rancor, ora mágoa no discurso de ambos os lados. A Abrafin deve mudar de nome e proposta.

Os dissidentes farão uma reunião no fim do mês para discutir nova associação, que junte festivais e produtores.

Colaborou THALES DE MENEZES

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