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Livros

Ícone da resistência, Rodolfo Walsh tem livro lançado no país

"Variações em Vermelho", inédito no Brasil, é a obra de estreia do argentino, morto pela ditadura nos anos 1970

Volume experimenta com gênero policial; seu personagem é uma espécie de alter ego do próprio escritor

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A obra de ficção do argentino Rodolfo Walsh (1927-1977) ganha edição brasileira num momento em que o escritor vem se transformando em ícone da resistência à ditadura dos anos 70 em seu país. O conjunto estava inédito no Brasil (exceto por alguns contos que saíram em coletâneas passadas).

Também tradutor e jornalista, Walsh é autor, entre outros, do clássico do jornalismo investigativo latino-americano "Operação Massacre" (1957). Na política, atuou como militante montonero (guerrilha de esquerda).

A editora 34 começou a lançar sua ficção em português em 2010, com "Essa Mulher e Outros Contos". Agora, chega às livrarias do Brasil o segundo volume, "Variações em Vermelho".

Enquanto isso, em 2011, a Justiça argentina, que vem condenando os responsáveis por crimes cometidos pelo Estado argentino durante a ditadura (1976-1983), determinou a prisão perpétua de 12 responsáveis por torturas e desaparições no centro de detenção da ESMA (Escola Mecânica da Armada), relacionados com o caso Walsh.

O escritor terminou seus dias executado numa esquina do centro da cidade por um comando militar, em 25 de março de 1977. Aspectos da morte ainda são investigados.

"Variações em Vermelho" é o livro de estreia do escritor e foi lançado em 1953. Nele, Walsh experimenta com o gênero policial, do qual era admirador desde que trabalhara para a editora Hachette, revisando e traduzindo obras dessa vertente.

Além disso, Walsh tinha como principal referência os trabalhos de Jorge Luis Borges (1899-1986), um fã confesso do gênero.

No texto "Dois Mil e Quinhentos Anos de Literatura Policial", que está no volume, Walsh faz uma análise sobre o histórico do estilo, de certa forma inserindo-se nele.

O escritor é herdeiro de uma longa tradição literária argentina vinculada ao policial. Dela fazem parte, além de Borges, Ricardo Piglia ("Alvo Noturno").

O protagonista dos contos de "Variações em Vermelho" é Daniel Hernández, uma espécie de alter ego do escritor.

O herói é também um revisor de provas, que usa as habilidades requeridas por sua profissão para resolver enigmas criminais.

Por ter sido um militante montonero, Walsh virou um ícone, escolhido pela presidente Cristina Kirchner para representar a resistência à ditadura. A militância kirchnerista o celebra.

Para o editor e tradutor Sergio Molina, o vínculo que se faz de Walsh com sua militância política, hoje, é prejudicial para a apreciação literária de sua obra.

"Ter virado um mártir e prócer oficial da 'era K' [Kichner] provocou a reação de negar sua importância literária", diz. Molina destaca, assim, a relevância de resgatar sua ficção hoje. A editora 34 prevê lançar, ainda, um terceiro volume, "Os Casos do Delegado Laurenzi e Outros Contos Resgatados", com 22 contos que foram publicados em revistas da época.

VARIAÇÕES EM VERMELHO
AUTOR Rodolfo Walsh
TRADUÇÃO Sérgio Molina e Rubia Prates Goldoni
EDITORA 34
QUANTO R$ 39 (240 págs.)

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