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Filme Falado

Michel Hazanavicius, criador de "O Artista", conta os desafios de fazer cinema mudo hoje

Fotos Divulgação
Jean Dujardin e Berénice Bejo em cena de "O artista"
Jean Dujardin e Berénice Bejo em cena de "O artista"

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

A limusine para na frente do casal, na porta do hotel cinco estrelas, em Los Angeles. "Só podem ser estrelas de cinema", diz, tentando adivinhar, um hóspede.

Talvez se não falasse tão alto e não estivesse tão colorida num vestido azul brilhante, seria mais fácil reconhecer Bérénice Bejo, atriz do filme mais improvável e comentado da temporada, mudo e preto e branco.

Ela está ao lado de Michel Hazanavicius, seu marido, que escreveu e dirigiu "O Artista". No longa, o astro do cinema mudo George Valentin (Jean Dujardin) se nega a entrar para os filmes falados, na Hollywood dos anos 20. O ator conta com a ajuda da dançarina Peppy Miller, interpretada por Bejo.

"Fizemos apesar de tudo, apesar do senso comum. Há algo de tocante nisso", diz Hazanavicius, no bar do mesmo hotel, algumas semanas depois. Aos 44, ele é diretor de duas sátiras de espionagem protagonizadas por Dujardin, uma delas rodada no Rio. Leia a entrevista:

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Folha - Quantas vezes lhe perguntaram se você era louco?
Michel Hazanavicius - Muitas vezes, muitas. Quando eu falava sobre o filme, não me levavam a sério. Quando comecei a trabalhar com Thomas [Langman, produtor], tudo ficou mais simples, virou um filme de verdade. Antes era fantasia. Nem eu estava totalmente convencido.

Por que escolher, hoje, fazer um filme mudo?
É um formato incrível, um jeito muito diferente de contar uma história. Amo filmes mudos. Os bons, claro, porque os ruins são realmente chatos. É uma nova experiência para a plateia de hoje, funciona com outra parte do cérebro. Você preenche a falta de som com sua própria imaginação.

A ideia era fazer um filme mudo hoje, mas sem ser velho, mesmo sendo de época, com o benefício de 80 anos de sofisticação de narrativa. Achei que tinha um filme que ninguém tinha feito antes.

O que deu mais trabalho?
O real desafio técnico foi o roteiro. Você não pode contar com as mesmas ferramentas, não lida com diálogos, com palavras, mas apenas imagens para contar a história. É uma grande diferença.

E o que muda para os atores?
Há 68 atores no filme e nenhum deles atuou mudo, era tudo muito natural. Quando as pessoas pensam em filmes mudos, pensam logo em atuações exageradas. Mas não é verdade. Pedi para eles agirem de forma bem natural. O público percebe a performance de forma totalmente diferente, observa cada detalhe, cada expressão do ator.

O que acha de Hollywood gastar tanto em novas tecnologias e um filme como o seu roubar a cena e os prêmios?
Talvez o filme relembre às pessoas por que elas gostam de cinema, acima de tudo. Há algo meio infantil, você olha como se fosse a primeira vez.

É um filme bem estranho, em preto e branco, eles falam e você não ouve. É uma estranha representação da realidade. Talvez as pessoas se sintam tocadas porque é um filme muito improvável, que surge do nada.

Você se sente um peixe fora d'água nessas premiações?
Não, porque um peixe fora d'água morre [risos]. Me sinto como uma criança na Disneylândia. Olho para todos os lugares e vejo ícones. É realmente incrível. Dois dias atrás tive uma conversa com Meryl Streep. Ela foi tão simpática!

Sente que está carregando a bandeira da França?
Oh, não, não. Não ligo para isso. Não tenho vergonha de ser francês, mas também não tenho orgulho. Não tenho bandeiras. Sou diretor de cinema.

Leia a íntegra desta entrevista
folha.com/no1043248

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