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Crítica Drama

Oficial como uma estátua equestre, filme traz retrato monótono e unidimensional

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Para abordar "A Dama de Ferro" convém esquecer preconceitos a respeito de Margaret Thatcher, pois a primeira-ministra britânica é alguém, ainda hoje, capaz de causar ódios e paixões por sua ação no cargo.

Mais do que isso, suas ideias permanecem em discussão: como tratar os impostos, o que fazer para que um país saia do buraco e volte a crescer, quem deve pagar mais impostos etc.

Tudo isso, que ficou conhecido como neoliberalismo, passa, em boa medida, por Thatcher. Queiramos ou não, ela moldou em grande parte o mundo em que vivemos.

O filme é outra coisa. A história que vemos é a da jovem e combativa filha do quitandeiro. A adolescente que se dedica aos estudos nas horas de folga, quando suas colegas vão se divertir.

É, por fim, a jovem que vai estudar em Oxford e que absorve como verdade final cada ensinamento paterno: o complexo de Édipo é evidente na formação de Thatcher.

Se já aqui, abordando sua formação, o filme opta por tratar quem quer que se oponha a ela como um idiota, sejam eles colegas ou mesmo os importantões do Partido Conservador, já se pode imaginar o que acontece na sua maturidade.

E, com efeito, seus adversários não receberão do filme qualquer trégua. Líderes de oposição não passam de vazios tagarelas. Quanto aos generais argentinos, Thatcher mesmo se encarrega de designá-los como bandidos e fascistas (não se menciona no filme a proximidade com Pinochet, por exemplo, não tão menos bandido e fascista e, no entanto, seu aliado).

Quanto à velhice, ao momento que sucede o final de sua carreira política, não é tão diferente: por fim vemos alguma fragilidade na figura em cena. Mas ela decorre exclusivamente de uma circunstância física.

Em nenhum momento confirma-se a promessa da bela sequência inicial (Thatcher em pessoa indo à mercearia para comprar leite), de que nenhum homem, mesmo o mais poderoso, controla o destino, nem mesmo controla o mundo que ele mesmo ajudou a forjar.

Em vez disso, "A Dama de Ferro" contenta-se mansamente com o panegírico infindável, o que tem o inconveniente incontornável de criar um retrato unidimensional, monótono, oficial como uma estátua equestre.

A DAMA DE FERRO

DIREÇÃO Phyllida Lloyd

PRODUÇÃO Reino Unido/2011

COM Meryl Streep, Jim Broadbent

ONDE Anália Franco UCI, Shopping D Cinemark e circuito

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO ruim

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