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CCBB faz retrospectiva de Péter Forgács

Cineasta húngaro retrabalha filmes amadores antigos para criar narrativas sobre a memória familiar e da guerra

Entre destaques, há produção que usa registros de mortes de guerra civil na Grécia, feitos por aristocrata

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DE SÃO PAULO

O húngaro Péter Forgács, 61, sabe que seu cinema é para poucos. Para poucos e bons. "Às vezes, tocar uma única pessoa que reflita já é o suficiente", diz à Folha, por telefone, de Budapeste.

O diretor trabalha com filmes amadores de arquivo e cria narrativas que misturam as histórias familiares com as memórias de conflitos como a Segunda Guerra Mundial.

Após ter filmes no festival É Tudo Verdade em 1997, 1998 e 2005, ele ganha uma retrospectiva no CCBB a partir de hoje (confira comentários do diretor e destaques ao lado).

"Não sou como um escritor, que produz quando está inspirado. Tenho as circunstâncias que definem quando e qual projeto vou fazer. Mas me interesso por coisas que expandem a imaginação."

O ciclo no CCBB reúne algumas pérolas de sua filmografia, como "O Filme de Angelo" (1999), em que um aristocrata registra às escondidas a morte de pessoas na Grécia durante a ocupação nazista e a subsequente guerra civil.

"Com coragem, esse homem contou a história de sua família e a do país. Público e particular se cruzam aqui."

Esse viés passadista está também presente na série "Hungria Particular", da qual faz parte "A Família Bartos" (1988), registros feitos entre 1920 e 1960 que revelam os efeitos da guerra e do governo colaboracionista numa família parcialmente judia.

MINIMALISMO

No início de sua carreira, Forgács fazia performances com o compositor húngaro Tibor Szemzö, em que uniam música improvisada, projeção de antigos filmes amadores e leitura de poesias.

"Era uma relação mágica entre a repetição de música minimalista e filmes aleatórios."

Então foi convidado para criar um acervo de filmes amadores na Hungria em 1983. Com patrocínio do Ministério da Cultura de seu país, conseguiu as condições para retrabalhar essas produções.

"Não é um trabalho popular. Mas quem se importa? Ninguém vai me bater para fazer mais bilheteria", avalia.

Ele diz que busca um cinema mais contemplativo, "como num museu de arte", na linha de "Koyaanisqatsi" (1982), dirigido por Godfrey Reggio, por exemplo.

"Meu trabalho é menos sentimental que a média dos filmes atuais, que trazem óbvios dramas, divisão entre o bem e o mal. Mesmo que não saibam nada sobre história da Europa, as pessoas vão entender o sofrimento humano e vão fazer suas próprias associações. E, se forem corajosas, vão deixar isso fluir."

Entre seus mais de 30 filmes, há também espaço para obras mais líricas, como "Márai Herbal", que faz uma colagem de imagens para poemas de seu conterrâneo Sándor Márai (1900-1989).

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