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'Diaba da moda' lembra carreira em livro

Temida e admirada, Regina Guerreiro mostra também em exposição fotografias pioneiras da produção nacional

"Foi uma espécie de obsessão pelo perfeccionismo que me transformou numa diaba", lembra

CAROLINA VASONE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os anos 80 mal tinham começado. Regina Guerreiro, 71, então diretora de moda da revista "Vogue", quis adequar, para as fotos de um editorial, a cor do pato ao azul do jeans, tão em voga na época.

Se a natureza não havia concebido patos azuis, um spray seria suficiente para complementar a cartela de cores da espécie. "Dei duas fumascadas e falei: 'Clica, [J.R.] Duran!' Ele clicou, e o pato morreu", lembra Regina.

Exatamente 30 anos depois do polêmico e trágico (para o bicho, já que a foto, exclama Regina, saiu linda) acidente, o mundo da moda é outro.

Os sacrifícios em prol da imagem perfeita ganharam limites. Trancar a equipe que dirigia na "Elle" até que a revista ficasse pronta também não se faz mais. Já muitas das cerca de cem imagens produzidas em quase 50 anos de carreira de moda parecem bastante atuais.

"Quero mostrar que fotos de décadas atrás são tão ou mais modernas do que as de hoje", disse, no sofá de sua casa, vestida num quimono da grife Neon, na manhã de anteontem, dia do lançamento de "Ui!", livro que reúne imagens de editoriais de moda comandados por ela, exposta também em uma mostra no MuBE (Museu Brasileiro de Escultura).

A interjeição que dá título à publicação é marca registrada da jornalista e revela uma de suas grandes qualidades profissionais: o humor.

Tanto nos textos quanto nos editoriais de moda para revistas como "Claudia" (anos 1960), "Vogue" (1970 e 1980), "Elle" (anos 1990) e "Caras" (anos 2000), o talento para ironizar, provocar e até debochar provocam o sorriso de quem se vê ao mesmo tempo cúmplice e alvo da piada -afinal, os amantes da moda, em algum momento, sempre acabam vitimados por ela.

Já a obsessão por criar a foto ideal rendeu parcerias (com fotógrafos como Otto Stupakoff, Trípoli e Miro) e histórias impagáveis, como a da viagem a Israel, em 1984, com Miro, quando os dois percorreram o deserto da Judeia em busca da melhor luz, locação e figurino.

No fim, Regina enrolou as modelos com o famoso lenço palestino que viraria moda décadas depois, em 2007, no desfile da Balenciaga.

Essa procura incansável pelo "irreal", como Regina define, também rendeu desafetos, responsáveis por sua faceta "diabólica".

"Foi uma espécie de obsessão pelo perfeccionismo que me transformou numa diaba. Aquela que matou o pato", retoma, referindo-se à foto que Duran não cedeu para o livro (substituída por ilustração no mesmo tom de azul).

Regina Guerreiro é capaz de se meter em situações igualmente difíceis e polêmicas para defender o que acredita. Isso inclui criticar duramente estilistas como Clô Orozco (Huis Clos), que passou dez anos sem falar com a editora (mas esteve no lançamento do livro), ou declarar que a moda anda "bêbada e não sabe para onde vai".

"Hoje, você vai a festas de longo, de midi, de curto: tudo está na moda, então nada está na moda", diz, e encerra com uma provocação. "A moda virou meio puta, sabe?"

UI!
AUTORA Regina Guerreiro
EDITORA Luste Editores
QUANTO R$ 108 (216 págs.)

EXPOSIÇÃO UI!
QUANDO até 26/2, de ter. a dom., das 10h às 19h
ONDE MuBE (av. Europa, 218, tel. 0/xx/11/2594-2601)
QUANTO grátis

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