Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

'Xingu' divide público e crítica em Berlim

Filme de Cao Hamburger, exibido na seção Panorama, aborda de forma épica a criação do Parque Nacional do Xingu

Produção cria drama na relação entre os irmãos Villas-Bôas, que passaram mais de 40 anos naquela região

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Com uma acolhida gélida na sessão para imprensa, em uma sala de 500 lugares com lotação de menos de 10% de sua capacidade, "Xingu" teve, ontem, sua segunda exibição no 62º Festival de Berlim, a Berlinale.

Entretanto, na primeira sessão para o público, no último sábado, a situação foi bem distinta, com sala lotada e aplausos no final.

A nova produção de Cao Hamburger, que deve estrear no Brasil em abril, conta a saga dos irmãos Villas-Bôas, responsáveis pela criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, uma área de mais de 27 mil quilômetros quadrados, que se equipara à de um paí­s como a Bélgica.

"Essa não é uma história muito conhecida e, através de gerações, ela vem sendo esquecida. Por isso quisemos resgatá-la", disse Hamburger, em Berlim, cidade de origem de seu pai.

Em 2007, o diretor concorreu ao Urso de Ouro com "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias".

"Além disso, ela é muito atual, já que os problemas continuam até hoje."

"Xingu" é exibido na seção Panorama, a segunda mais importante do festival.

O filme não só relata de forma épica a criação do parque, como apresenta de forma dramática a relação dos irmãos.

Eles eram três, apesar de dois deles, Orlando (1914-2002) e Cláudio (1916-1998), terem ficado mais conhecidos, por se dedicarem o tempo todo à causa.

Leonardo (1918-1961), que teria sido o primeiro a ir para a região, a abandona e morre cedo do coração.

A EXPERIÊNCIA

Os atores João Miguel (que interpreta Cláudio) e Caio Blat (Leonardo) também estão em Berlim.

"Posso dizer que sou outra pessoa depois deste filme, porque passei a ter um entendimento do Brasil que só essa experiência proporciona. Os í­ndios incorporam rito e mito, e isso está além de qualquer treinamento teatral", afirmou João Miguel.

"Xingu", contudo, não é um documentário ilustrativo sobre a criação do parque. "Para fazer o filme, ouvimos muita gente, não nos baseamos apenas nos livros dos Villas-Bôas, mas em pessoas que os conheceram. Ouvimos muitas versões. O filme é a minha", definiu Hamburger.

O CONVITE

Segundo o diretor, a ideia do filme partiu da própria família dos indianistas: "A viúva de Orlando e seu filho nos procuraram e aceitei com a condição de ter total liberdade para fazer o longa".

Nesse sentido, por exemplo, o filme aposta que assim como Leonardo teria saído da região após ter se relacionado com uma í­ndia, Cláudio também teria.

"Eles passaram 40 anos na região. Seria difí­cil que nada tivesse acontecido", disse Andrea Barata Ribeiro, uma das produtoras de "Xingu".

O contato com os índios parece ter sido tão forte que Hamburger pretende continuar com o assunto em suas próximas produções.

"Quero abordar a Amazônia profunda. Eu ouvi falar de í­ndios que fogem da civilização branca. É esse universo que quero investigar a partir de agora."

O jornalista FABIO CYPRIANO se hospeda a convite do Festival de Berlim.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.