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Crítica Drama

Sem medo de ser moderno, filme exige espectador disposto a digeri-lo ao fim

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Para a maioria, Monte Hellman não significa nada, enquanto os cinéfilos sabem de sua influência sobre Tarantino, na forma de referências ou como produtor-executivo de "Cães de Aluguel".

No entanto, com seus westerns metafísicos e o "road movie" existencialista "Corrida Sem Fim", Hellman foi elevado ao posto de mito da geração que reinventou Hollywood com os signos da modernidade na virada dos anos 60 para os 70.

Depois de 22 anos sem dirigir longas, o veterano cineasta, hoje com 79 anos, retornou com "Caminho para o Nada", que desde sua estreia no Festival de Veneza de 2010 vem sendo recebido a pedradas ou com respeito frio.

Isso porque Hellman insiste em fazer algo que se tornou fora de moda: ser moderno.

Na visão movida a vereditos sumários, "Caminho para o Nada" foi tachado de exercício de metalinguagem por adotar o usado recurso do "filme dentro do filme" ao contar a história de um diretor que filma uma trama policial sobre uma mulher misteriosa morta num golpe obscuro, enquanto nas filmagens as duas situações se misturam e nunca sabemos bem se o que vemos se passa de um lado ou de outro da ficção.

Essa duplicação constituiu, de Godard a Kiarostami, recurso recorrente do cinema moderno para ativar no espectador a consciência do ilusionismo fundador do espetáculo cinematográfico.

Em "Caminho para o Nada", contudo, já não existe mais um lugar do qual possamos contemplar a ilusão na segurança de uma "consciência". "Tudo se torna o filme, e é tornado filme na medida em que é assimilado por ele", na descrição pertinente do crítico Fábio Andrade.

Tal como no quadro "Retrato de Edward James", de Magritte, vemos a figura que se olha no espelho e sua réplica. Tal como em "Guerra sem Cortes", de Brian de Palma, a autonomia das imagens impede que a narrativa seja guiada por uma voz que dê a ela ordem ou, ao fim, revele algum segredo.

Com seu título mordaz, "Caminho para o Nada" é um clássico filme moderno, ou seja, não se consome ao fim da projeção e pede um espectador disposto a digerir.

CAMINHO PARA O NADA

DIREÇÃO Monte Hellman
PRODUÇÃO EUA, 2010
COM Tygh Runyan
ONDE Cinesesc
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo

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