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Divisão enfraquece semanas de moda

Jornalistas chegam confusos ao Brasil, sem saber se é São Paulo ou Rio que representa o mercado fashion no país

Separação serve para reforçar lealdade a grifes nacionais, que terão briga difícil com as marcas europeias

VINCENT BEVINS
DO “FINANCIAL TIMES”

Se a França e a Itália, capitais mundiais da moda, se contentam com uma grande semana de moda, será que o Brasil precisa de duas?

É verdade que o país tem a sexta maior economia do mundo, um mercado de consumo crescente e apetitoso e muito com que atrair turistas, mas será que está acontecendo tanto em termos de moda que exija a realização do Fashion Rio e da São Paulo Fashion Week, com sete dias entre um evento e o outro?

Quando as duas cidades promoveram seus desfiles de outono/inverno, no final do mês passado, ficou claro que a resposta depende do ponto de vista de cada um.

Se o objetivo é atrair a atenção internacional e introduzir as grifes brasileiras no espaço ocupado pelas marcas europeias, a resposta é não: dois eventos dividem e confundem, e quase nenhum jornalista toma o tempo necessário para acompanhá-los.

Na verdade, a maioria chega aos desfiles sem saber qual é a "verdadeira" semana de moda e que grifes estão à venda em seus países.

No momento, só um punhado delas tem alguma presença real fora do país (Pedro Lourenço, Osklen e Alexandre Herchcovitch); 95% das vendas são feitas no Brasil.

Mas, se o objetivo é reforçar a lealdade às grifes brasileiras e "desenvolver uma cultura de moda" no país, como afirma Paulo Borges, diretor criativo das duas semanas de moda, a lógica faz mais sentido.

Não está claro, porém, se os organizadores ou estilistas já pesaram essas questões.

Não se pode, por exemplo, dizer que o Rio tenha algo semelhante a um inverno. Logo, seria possível argumentar em favor de uma divisão: o Rio poderia se tornar o centro do estilo praia, enquanto São Paulo representaria um mundo mais metropolitano.

Na prática, porém, as coisas não funcionam assim.

A Osklen, carioca que é uma das mais ligadas à moda praia, expõe suas criações na SPFW, assim como faz a maioria dos grandes nomes.

Desta vez coube ao Rio destacar sua conexão com a natureza, vestindo seus modelos como ecoguerreiros futuristas, alternando entre verde-exército e estampas florais ultracoloridas.

Alexandre Herchcovitch teve dois desfiles em São Paulo e outra linha baseada no denim que foi mostrada no Rio. Surpreendentemente, foi esta que mais impressionou.

E há Pedro Lourenço, que, aos 21 anos, já superou Herchcovitch como o brasileiro que mais chama a atenção no cenário internacional.

Mas ele parece pouco interessado na SPFW, tendo mostrado apenas sua coleção "pré-outono" ali.

Lourenço usou estampas grandes de geleiras, montanhas e desertos. A inspiração não foi o Brasil, mas o deserto do Atacama, no Chile.

"Não acho que, para parecer brasileiro, eu precise ficar continuamente produzindo estampas de araras ou folhas de bananeira", disse.

NÓS TEMOS BANANAS

Mesmo assim, uma das peças mais bem recebidas da coleção Resort traz uma estampa de arara -e, na SPFW, a grife Neon recorreu aos estereótipos brasileiros no uso que fez do movimento Tropicália, como um chapéu ao estilo de Carmen Miranda.

Já a Coven roubou a cena no Rio com uma coleção de malharia inspirada na cultura maia da Guatemala.

Mas, apesar de toda a originalidade de Pedro Lourenço ou Coven, eles não têm a sofisticação ou poder de marca de uma Balenciaga.

Paradoxalmente, há pouca diferença de preços entre brasileiros e estrangeiros. Portanto, à medida que o mundo se globaliza, as grifes brasileiras podem encarar uma briga difícil.

Possivelmente em reconhecimento desse fato, Rio e São Paulo têm estado em conversações para "convergir e traçar estratégias de suas respectivas semanas de moda com vistas a evitar a redundância competitiva".

Não foi tomada uma medida concreta, já que nenhum lado quer abrir mão de seu papel. Assim, em vez de serem maiores que a soma de suas partes, juntas dão um todo que é insuficiente.

Tradução de CLARA ALLAIN.

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