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Folhateen

Estagiários, uni-vos!

Com ajuda de padroeiro, estudantes pedem melhores salários e condições de trabalho

CHICO FELITTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Estagiários, joguem suas mãos para o céu. Surgiu na Itália um santo para sua proteção: são Precário, padroeiro de quem está no primeiro capítulo da carreira.

A imagem sacra de um moleque ajoelhado, rogando por dinheiro, transporte e comida (além de amor, que ninguém é de ferro), foi criada por estudantes italianos e já é conhecida em vários países da Europa.

No Reino Unido, imagens do santo enfeitaram um protesto realizado em dezembro passado em frente ao Parlamento britânico e, há duas semanas, um levante em Paris, quando 4.000 estagiários foram reclamar direitos na avenida Champs-Élysées.

Os "stagieres" franceses marcharam de máscara para evitar que seus chefes os reconhecessem. Pediam em cartazes: "Pague pelo menos o almoço!", "Tratem-nos com educação!" e "Não faço faculdade de tirar xerox!".

"Precisamos nos organizar como categoria e fundar um sindicato", diz Liège, 21, uma das organizadoras da passeata parisiense.

Sim, porque estagiário, mais do que um aprendiz, passou a ser uma categoria profissional para grupos de trabalhadores e objeto de estudo acadêmico.

"São pessoas que, teoricamente, nem estão na mesma profissão, só no mesmo momento. Mas, como se sentem exploradas, acabam formando uma categoria", diz o economista Rudolph Beich, da Universidade de Munique, na Alemanha.

"Acontece muito de ser só mão de obra qualificada que as empresas contratam por quase nada. Em alguns lugares, por nada mesmo. Se as condições são precárias, é natural que eles lutem por direitos", opina a socióloga do trabalho Madalene Schionne, da universidade francesa Sorbonne.

SALÁRIO DE RELÓGIO

Entre os países em que se pode contratar um estudante de graça, está a França, com 800 mil estagiários.

Para Ross Pearlman, repórter da revista "Time" que acompanha a carreira de estagiários nos Estados Unidos, "o estágio tem um quê de escravidão, mas é mais sutil, porque conseguiram nos convencer de que precisamos dele para deslanchar a carreira", disse ao "Folhateen".

Na Alemanha, um grupo chamado Robin Hood Gang, de Hamburgo, veste-se de super-herói, saqueia caviar

e champanhe de supermercados e os distribui entre estagiários.

"É uma forma de compensação", explica, por e-mail, um dos líderes, que se autodenomina Santa Guevara, uma mistura de Papai Noel com Che Guevara.

"Afinal de contas, os patrões querem que a gente viva de quê? De ar?", reclama Santa.

HORA DE MARCHAR

De acordo com a Associação Brasileira de Estágios, existe 1 milhão de estagiários -há quem chame "escraviários"- no país, número três vezes maior que o de dentistas.

A articulação da categoria, no entanto, é inexistente.

Na opinião de Pearlman, "os jovens têm dificuldade de pensar como trabalhadores, pois ainda estudam".

Quem sabe agora, que os movimentos de reivindicação começaram na Europa, uma espécie de "Primavera dos Estagiários" se alastre pelo mundo e chegue ao Brasil.

Já existe para quem rezar.

"Já estagiei em três bancos e aprendi muito. Hoje, ganho R$ 1.600 por mês. Um salário bem abaixo daquele de um colega formado, embora eu trabalhe tanto quanto ele. Mas, em dois anos, eu chego lá"

JULIANO EILOR, 20, CURSA O 3º ANO DE ADMINISTRAÇÃO

"Em 2011, fui estagiária de um estilista famoso. Tinha que costurar e conceber roupas sem nenhuma ajuda. Na última São Paulo Fashion Week, pelo menos quatro peças apresentadas na passarela foram feitas por mim. E meu nome não estava em lugar nenhum. Pedi demissão"

GABRIELLE (nome fictício), 21, CURSA O 4º ANO DE MODA

DIREITOS DO ESTAGIÁRIO NO BRASIL*

Bolsa-auxílio, a ser combinada com o empregador

Auxílio-transporte

Recesso remunerado

Carga horária de seis horas diárias (30 horas semanais)

Tempo máximo de estágio: dois anos na mesma empresa

Seguro contra acidentes pessoais

*Fonte: Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)

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